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Mostrando postagens de 2010

UM ANO COM MAIS VALSAS E MENOS PRESSA

“Enquanto o tempo acelera e pede pressa Eu me recuso, faça hora, vou na valsa A vida é tão rara!” ( Paciência, de Lenine/ Dudu Falcão) Deixei para comprar o presente de natal da minha esposa somente na semana da festa. Ingenuamente fui procurar num shopping! Como todos sabem, nessa época do ano o comércio está fervendo de gente: jovens de férias, crianças para verem os enfeites natalinos, turistas e gente que deixou suas compras para última hora! Encontrei o que eu queria até com certa rapidez, e junto à compra uma constatação que me fez rir: depois do presente em mãos eu estava andando a uns 15 km/h seguindo o frenesi de todos os transeuntes! Então eu me perguntei: “por que estou andando tão rápido? Já comprei o presente, eu tenho mais de 2 horas para o próximo compromisso e o local do compromisso fica apenas a 7 km daqui!” Na mesma hora eu reduzi a marcha até quase arrastar o sapato no chão (só de vingança!), neguei-me a ser carregado por aquele fluxo de gente e pense

A Pequena Alegria

Os movimentos do nosso coração, nossa força empreendida, os sonhos desejados, a nossa visão de mundo, a maneira como organizamos a nossa vida, nossa religião e liturgia, por vezes é influenciado pela sociedade; sociedade esta de consumo, do descartável, do imediatismo, do midiático, do utilitarismo, da concorrência, do ufanismo, do triunfalismo, do mito, do endeusamento do corpo e dos campeões, entre outras coisas... Num mundo como este os nossos olhos vão ficando cada vez mais cegos para as coisas mais modestas, para o Reino que acontece também no anonimato ("o Reino é como uma semente plantada..."), para os fracos, para os perdedores, para as amizades que requerem tempo, para aqueles que não tem o padrão de beleza imposto, para aqueles que tem alguma dificuldade motora, para as crianças, para os pobres e para os prazeres pequenos do dia a dia. Daí, no natal, se repete o que aconteceu no nascimento de Jesus: poucos perceberam o Deus de fraldas! Poucos perceberam o

Um pouco de Bernardo Soares (heterônimo de Pessoa) no "Livros do Desassossego"

No alto ermo dos montes naturais temos, quando chegamos, a sensação do privilégio. Somos mais altos, de toda a nossa estatura, do que o alto dos montes. O máximo da Natureza, pelo menos naquele lugar, fica-nos sob as solas dos pés. Somos, por posição, reis do mundo visível. Em torno de nós tudo é mais baixo: a vida é encosta que desce, planície que jaz, ante o erguimento e o píncaro que somos. Tudo em nós é acidente e malícia, e esta altura que temos, não a temos; não somos mais altos no alto do que a nossa altura. Aquilo mesmo que calcamos, nos alça; e, se somos altos, é por aquilo mesmo de que somos mais altos. Respira-se melhor quando se é rico; é-se mais livre quando se é célebre; o próprio ter de um título de nobreza é um pequeno monte. Tudo é artifício, mas o artifício nem sequer é nosso. Subimos a ele, ou levaram-no até ele, ou nascemos na casa do monte. Grande, porém, é o que considera que do vale ao céu, ou do monte ao céu, a distância que o diferencia não faz diferença.

O PODER DE JESUS É O SEU AMOR

A Bíblia nos diz com todas as letras em 1 Jo 4.16 que “ Deus é amor!”. O amor não é um atributo de Deus, entre outros, o amor é a própria essência de Deus. Deus é todo Amor. O amor não é uma faceta de Deus. É todo Deus! Deus não tem amor, Deus não age com amor. Deus é amor! Deus não deixa o seu amor em standby para exercer qualquer atributo seu. Deus não faz nada sem o amor, senão estaria se anulando; Deus nada pode sem o amor, porque o amor é Ele! Dessa forma todos os atributos de Deus, são atributos do amor. Ou seja: todo atributo que eu uso para Deus, eu devo usar para o seu Amor. Se Deus é onipotente (e sem dúvida é!), o amor de Deus é onipotente, porque Deus é amor. Se Deus é infinito (e é!) eu preciso afirmar que o amor de Deus é infinito, pois Deus é amor. Dizer que Deus é soberano é dizer que o Amor é soberano. O contrário também é verdade: as qualidades e movimentos do Amor são usados também para Deus. O Amor tudo suporta – Deus tudo suporta; o Amor tudo crer – D

Um recorte do Rabino Abraham Heschel

A Torá oral jamais foi registrada. A proibição de registrar por escrito o "ensinamento oral" foi considerada, durante séculos, como uma doutrina básica. "Aqueles que registraram por escrito a halachá são como aqueles que queimaram a Torá. Aquele "que registrou a agadá perde sua participação no mundo que virá”. Então, os rabinos decidiram submeter o “ensinamento oral” à forma escrita. Para justificar a reforma audaciosa, eles interpretaram as palavras do verso 126 do Salmo 119, que dizem: “Um tempo virá quando será preciso ab-rogar a Torá para poder fazer a obra do Senhor”. Dessa maneira, afirmaram os rabinos, é melhor que uma parte da Torá seja ab-rogada do que a Torá inteira seja esquecida. O acúmulo de uma enorme quantidade de aprendizado, a dispersão das comunidades judaicas e o enfraquecimento da memória brigaram contra o sistema não escrito. O rabino Mendel de Kotsk perguntou: Como os rabinos antigos puderam abolir o princípio fundamental do judaísmo de não reg

de Bernad Bro

Que vem a ser a pedagogia de Deus? Que vem a ser senão introduzir-nos, passo a passo, em certo silêncio, no seu silêncio e num silêncio sobre nós mesmos, porque acima das perguntas e respostas, o silêncio pode exprimir a presença e o amor.

De Alain Patin, citado por Dominique Morin em "Deus existe?"

(De Alain Patin, citado por Dominique Morin em "Deus existe?) "A ausência de Deus Deus, ninguém jamais o viu, tanto melhor... senão o crente... não teria mais nada a descobrir; essa ausência funda sua liberdade, responsabilidade e alegria. Sem essa ausência, ele não teria história possível, nem evolução, nem escolha verdadeira. Para que os homens possam tornar-se atores de seu futuro, é necessário estarem livres de todao presença que se impõe... A fé não pode ser jamais repouso, convite ao sono ou droga mais ou menos doce; ela é busca, iniciativa, aventura: 'Vai, parte para a terra que eu te indicarei'. Esse é, para sempre, o apelo dirigido a Abraão, o pai dos crentes."

Rainer Maria Rilker em "Cartas do poeta sobre a vida" - Ed Martins Fontes

Sempre se esquece que o filósofo, tal como o poeta, é o portador de futuros entre nós e pode contar menos do que os outros com a participação de sua época. Filósofos e poetas são contemporâneos de pessoas de um futuro longínquo e, tão logo prescindam de agitar seu vizinho, não têm motivo algum para criar ordens e tirar conclusões em seu desenvolvimento, exceto aquelas compilações sistemáticas que lhes são necessárias para uma visão geral de sua situação e que, no entanto, são sempre destruídas de novo por eles mesmos em benefício de seu próprio progresso interior. Tão logo sua conquista seja sistematizada e expressa em palavras, e alunos, discípulos e amigos se alinhem em favor dela e inimigos se precipitem contra ela, o filósofo não tem mais o direito de sacudir os fundamentos do sistema doravante habitado e de pôr em risco os milhares de indivíduos que tiram sustento dele. Ele obstruiu seu próprio progresso implacável, que talvez pudesse se erguer apenas sobre as ruínas dessa ordem;

Uma oração de Patxi Loide, citada por José María Mardones.

Tu, que brotas dentro de mim como uma fonte que não nasce de mim, porém que me molha e me rega. Tu, que brilhas dentro de mim como uma luz que eu não acendo, porém que ilumina minha sala de estar. Tu, que amas dentro de mim como uma chama que não é minha fogueira, porém que põe fogo em todo o meu ser. Tu, silêncio íntimo, que não falas, porém que sem palavras colocas em minha vida a palavra que dá vida ao mundo. Tu, confidente invisível, diálogo, companhia permanente, que me tiras do anonimato das coisas e me fazes ser eu.

Citação de S. Ireneu de Lião no livro "Recuperar a Salvação", de Andrés Queiruga

Se alguém perguntasse: "por acaso, Deus não poderia ter feito o homem, desde o princípio, perfeito?", seria bom que soubesse que, em relação a Deus, que é ingênito e imutável, tudo é possível; mas quanto a suas criaturas, precisamente porque tiveram início num tempo determinado, eram inferiores ao Criador (...). A mãe poderia subministrar alimento sólido ao bebê, mas este não seria capaz de digeri-lo, por se o alimento mais forte do que ele. Assim Deus poderia ter dado a perfeição ao ser humano desde o princípio, mas este não teria sido capaz de recebê-la. Por isso nosso Senhor, nos últimos tempos, recapitulando tudo em si mesmo, veio ao nosso encontro, mas como nós podíamos vê-lo. Ele poderia ter vindo até nós em sua glória indescritível, mas senso assim não poderíamos ter suportado o peso de sua majestade. Por isso, aquele que era o Pão perfeito do Pai apresentou-se-nos como a crianças. Em sua segunda vinda à natureza humana, apresentou-se como leite, a fim de que, alimenta

Meia Verdade

Toda palavra que diz sobre Deus Não fala tudo o que quer dizer Tanta verdade que pensa Deus É meia-verdade, sempre aquém... Todos os versos de uma canção Não saberão dizer seu Nome Muita ciência não vai definir O Deus que está pra além de deus O meu silêncio é minha fé Em um Ser livre e indomável Feito pássaro selvagem Que voa, voa... Minha oração é minha fé Que insiste crer que do outro lado Existe Alguém que me ouve Ouve, ouve... E está além das palavras Para além de um outro lado Por escolha amorosa Está dentro de mim! Com reverência se diz seu Nome Como quem sabe frágil o saber E pela graça vai com alegria Diante dele e o chama de Pai. Márcio Cardoso

Um nome de Deus

Este desejo em mim que não sossega É grandeza e não tem nome Nasceu comigo, mas vem de muitas eras Atrás da linha do horizonte Companheira que é saudade Uma ausência que é presença Ah, desejo... meu suspiro e devoção Este desejo em mim que não me larga Fala muito qual o silêncio Emudece os meus lábios feito à morte – O hiato de quem vive – Parte de mim que já se foi A metade que não vai Ah, desejo... meu fôlego e fé Meu desejo diz mais que palavras É o melhor da minha oração Já traduziu o que a letra matou No meu gemido o Pai discerniu Ah, desejo... um nome de Deus Márcio Cardoso

"Livro do Desassossego", de Fernando Pessoa

"Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de aplicação de vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender."