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Mostrando postagens de abril, 2011

Todo Humano

Eu sou meu contemporâneo e meu ancestral Ando para frente e me puxo para trás Eu sou o profeta e o sacerdote O transgressor e a tradição Eu me promovo e me boicoto Sou um abismo de gerações O que dá asas à imaginação E o que se desestabiliza com as vozes dos pais Eu sou um exilado de mim mesmo E ao mesmo tempo inquilino Eu me vejo por fora como quem vê fotos Observo os passos, os gestos, as feições Eu me vejo por dentro e vejo de dentro Eu ouço as minhas palavras em pensamento Escuto os meus suspiros e ais Mas não me discirno Sou um desconhecido de mim e tão familiar! Não me reconheço na imagem No entanto, sou um ser previsível Eu me surpreendo comigo, e me decepciono Nunca me vi tão covarde e tão corajoso Quem me habita há de concordar comigo: Somos um todo humano. Nada mais que isso. Nada mais sem isso. Márcio Cardoso

O príncipe e a raposa

Li num livro do Rubem Alves um recorte que ele fez do livro "O Pequeno Príncipe"; para mim Reino de Deus é amizade; a experiência com Deus anda pelas amizades; quem cativa anuncia boas novas; quem cativa evangeliza! O príncipe encontrou-se com um bichinho que nunca havia visto antes, uma raposa. E a raposa lhe disse: "Você quer me cativar?" "Que é isto?", perguntou o menino. "Cativar é assim: eu me assento aqui, você se assenta lá, bem longe. Amanhã a gente se assenta mais perto. E assim, aos poucos, cada vez mais perto..." E o tempo passou, o principezinho cativou a raposa e chegou a hora da partida. "Eu vou chorar", disse a raposa. "Não é minha culpa", desculpou-se a criança. "Eu lhe disse que não queria cativá-la. Não valeu a pena. Você percebe? Agora você vai chorar!" "Valeu a pena sim", respondeu a raposa. "Quer saber o por quê?" Sou uma raposa. Não como trigo. Só como galinhas. O trigo não s

Ser ou Seres

Ser plenamente eu. Cosmopolitamente. Dilatado, compacto, coletivo. Líquido, sólido e gasoso. Ser o que não posso ser em outro lugar O que desisti de ser o que sonhei ser e fracassei O que não quis ser e me consolei Ser o que não posso ser Ser o que serei e ser hoje Em todas as partes e de todas as formas ser o quanto suporto o quanto existe, o quanto me caibo - Uma praia de existência! Ser o que escolho, o que me escolhem Re-significando, adequando, revoltando... Ser do outro e de mim a partir de mim e do outro Ser original e plagiador Com vários olhos, lentes e biografias lançando mão de todos os léxicos, enciclopédias, jornais, revistas e sites Ser todos os poetas, músicos, romancistas teólogos, filósofos, historiadores, educadores em ebulição dentro de mim Ser de todas as tribos, raças e exércitos ser do globo e do meu quintal... ...É a licença da poesia - a arte da esquizofrenia!

Máscaras do Eu

Às vezes eu sou as minhas máscaras e é difícil me desvencilhar delas Por vezes eu me confundo. Olho no espelho e penso que eu sou aquele sem perceber a máscara que visto Mas às vezes me vejo sem máscaras e não me reconheço E são tantas as máscaras que eu não me acostumo! Mais de sete por dia durante 365 dias por ano que até completar o rodízio a minha face nua já envelheceu! É preciso me entregar É lúcido me assumir: As minhas máscaras sou eu! Márcio Cardoso

Deus visto como Deus de poder a um Deus adorado como amor (François Varillon)

Toda história da revelação é a da conversão progressiva de um Deus visto como Deus de poder a um Deus adorado como amor. E dizer que Deus é amor é dizer que Deus é todo amor. Tudo está neste “É TODO”. Eu os convido a passar pelo fogo da negação, pois só além dele é que a verdade realmente se destaca. Deus é Todo-poderoso? Não. Deus é todo Amor, não me venham dizer que ele é Todo-poderoso. Deus é infinito? Não, Deus é todo Amor, não me falem de outra coisa. Deus é sábio? Não. Eis o que chamo atravessar o fogo da negação: é absolutamente necessário passar por isso. A todas perguntas a mim dirigidas, responderei: não! não! Deus é todo Amor. Dizer que Deus é Todo-poderoso é propor como pano de fundo um poderio que se pode exercer pela dominação, pela destruição. Há seres suficientemente poderosos para a destruição (vejam Hitler, que matou seis milhões de judeus). Muitos cristãos propõem o Todo-poderoso como pano de fundo e depois acrescentam: Deus é amor, Deus nos ama. Isso é fal

Dialética

Dialética de um Vivo. Sou tão confuso que o melhor de mim é o paradoxo Tanto sei me expor à visita do Belo como à realidade do trágico – às vezes insensível e outras empático Convivo com as sensações e os conceitos tento explicar o que sinto e sentir o que argumento Numa sede desesperada do Carpe Diem e do Maranata colho o efêmero e planto a eternidade Uma parte de mim diz “glória”, a outra diz “misericórdia”: sou pecador e santo, a bela e a fera, o espelho e a imagem Sofro a dor do oprimido e torço a desgraça do opressor quando o opressor não sou eu! Sei ficar quieto e agitado, deprimido e alegre, mascarado e do avesso, moribundo e príncipe Quem serei, quem sou e fui? Quem estou, estive e quem estarei? Quem sentirei, senti, e quem sinto? Sou agora, sou ontem, sou depois – sou um coletivo... Sou assim: um misto de dialética nas minhas entranhas gritando ensurdecedoramente silenciosamente, estridentemente suavemente como o cheiro que acabo de sentir... Todos têm seus heterônimos ou um “