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Mostrando postagens de 2011

TAL E TANTO.

O quanto cabe numa história a dois? Os fatos, os pensamentos O feito, o por fazer Linguagens, interpretações Memórias e saudades A eternidade e o agora Quantos “eus” numa vida a dois! Liberdade, autonomia Egos, poder, narciso Silêncio e espaço Ambiguidades e um lar Apreciação e sapos Quanto amor na vida de dois? Êxtase, epifania Animal e humano Cotidiano e eventos Conquista e gratuidade Duas crianças e uma fonte. Quanta vida! Quanta história! Tal e tanto! Quantos “eus”! Quanto amor Em nove anos! (Dedicada à minha amada Déia em nosso aniversário de casamento!)

"Há teólogos que se parecem com galo", recorte de Rubem Alves

Há teólogos que se parecem com galo. Acham que, se não cantarem direito, o sol não nasce: como se Deus fosse afetado por suas palavras. E até estabelecem inquisições para perseguir galos de canto diferente e condenam outros a fechar o bico, sob pena de excomunhões. Claro que fazem isto por se levarem muito a sério e por pensarem que Deus muda de ideia ou muda de ser ao sabor das coisas que nós pensamos e dizemos. O que é, para mim, a manifestação máxima de loucura, delírio maníaco levado ao extremo, este de atribuir onipotência às palavras que dizemos. Teólogos são, frequetemente, galos que discutem qual a partitura certa: que canto cantar para que o sol levante? Neste sentido, conservadores fundamentalistas não se distinguem em nada dos teólogos científicos que se valem de métodos críticos de investigação. Todos estão de acordo em que existe uma partitura original, revelada, autoritativa, e que a tarefa da teologia é tocar sem desafinar. As brigas teológicas são discussões sobre

Dúvida (Bartolomeu Campos de Queirós)

Dúvida (BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS) "É só a dúvida que nos une, que nos aproxima. É só disso que precisamos. Precisamos de amparo com a nossa dúvida. E a literatura nos ampara. Tenho muito medo da verdade. Não acredito que haja nada verdadeiro. Tive um professor de filosofia, o padre Henrique Vaz, para quem eu perguntei “o que era a fé”. Ele me respondeu que a fé é a dúvida. Tem dias que você tem muita, tem dias que tem pouca, tem dias que não tem nenhuma. Isso se chama fé, porque nos é possível somente a dúvida. Hoje, estamos com muita gente encontrando a verdade. Quando uma pessoa encontra a verdade, a única coisa que ela adquire é a impossibilidade de escutar o outro. Ela só fala, não escuta mais. Quem encontra a verdade só fala."

Reverência

Reverência Chegue afetuoso Mais doce e tolerante Diante da pessoa Seu par e semelhan ç a Quem sabe os seus abismos As sombras escondidas Esquinas e caminhos Que o trazem a tua frente? Inclina a tua fronte Preste uma reverência À sucess ã o de eventos Que é este ser humano Que vai além de um ato É todo um concentrado De sol e chuva e vento De escolha, caos e acaso... Chegue em silêncio Ou ç a a história Ou ç a o seu corpo Suas palavras... E com surpresa terna Verás que neste encontro Sem for ç a e sem alarde Encontraste Deus Márcio Cardoso Fortaleza, 02 de junho de 2011 .

Arejada

É preciso deixar morrer O corpo que pede para descansar É preciso se despedir daquilo que “já foi” Sem nostalgias e culpas... Dentro em mim muitos Eus já morreram Muitas existências se despediram Incluindo as possibilidades de ser E as frustrações do não ser Restaram as suas memórias... Eu sou aquilo que eu não sou mais A sombra do que era O Velho foi humilde e deu lugar O Novo foi ambicioso e assumiu Eu já não sou aquele que era Eu sou o que ainda não se foi Arejada a minha caixa de entidade Márcio Cardoso

Dilatação

Eu sou tantos dentro de mim que quase me explodo Eu só me caibo Graças ao meu coeficiente de dilatação Mesmo assim, quando eu me dilato, Uma outra possibilidade de mim se impõe Quando o meu corpo esfria Este quase eu, que se esboçava, Para não escapar pelos meus poros Se divide entre os outros Alterando a sua substância E nessa dinâmica Cada vez que eu me divido eu me multiplico.

A vida sem ensaio

Eu tenho consciência de mim Aliás, essa consciência já sou eu (Ou um outro eu?...) Às vezes fico a me assistir Como quem vê um filme em 6D Às vezes sou um diretor Que em tempo real Interfere no protagonista (que sou eu!) Mas tudo é improviso. Tudo é online Nada é ensaio – Apesar de que, enquanto a vida roda, Meu protagonista, que sou eu, é frio e calculista – Nenhum script nos foi dado A essência se confunde com o ir existindo Vivemos a construir o instante (mesmo quando pausamos) No grande tablado que é a vida humana.

Todo Humano

Eu sou meu contemporâneo e meu ancestral Ando para frente e me puxo para trás Eu sou o profeta e o sacerdote O transgressor e a tradição Eu me promovo e me boicoto Sou um abismo de gerações O que dá asas à imaginação E o que se desestabiliza com as vozes dos pais Eu sou um exilado de mim mesmo E ao mesmo tempo inquilino Eu me vejo por fora como quem vê fotos Observo os passos, os gestos, as feições Eu me vejo por dentro e vejo de dentro Eu ouço as minhas palavras em pensamento Escuto os meus suspiros e ais Mas não me discirno Sou um desconhecido de mim e tão familiar! Não me reconheço na imagem No entanto, sou um ser previsível Eu me surpreendo comigo, e me decepciono Nunca me vi tão covarde e tão corajoso Quem me habita há de concordar comigo: Somos um todo humano. Nada mais que isso. Nada mais sem isso. Márcio Cardoso

O príncipe e a raposa

Li num livro do Rubem Alves um recorte que ele fez do livro "O Pequeno Príncipe"; para mim Reino de Deus é amizade; a experiência com Deus anda pelas amizades; quem cativa anuncia boas novas; quem cativa evangeliza! O príncipe encontrou-se com um bichinho que nunca havia visto antes, uma raposa. E a raposa lhe disse: "Você quer me cativar?" "Que é isto?", perguntou o menino. "Cativar é assim: eu me assento aqui, você se assenta lá, bem longe. Amanhã a gente se assenta mais perto. E assim, aos poucos, cada vez mais perto..." E o tempo passou, o principezinho cativou a raposa e chegou a hora da partida. "Eu vou chorar", disse a raposa. "Não é minha culpa", desculpou-se a criança. "Eu lhe disse que não queria cativá-la. Não valeu a pena. Você percebe? Agora você vai chorar!" "Valeu a pena sim", respondeu a raposa. "Quer saber o por quê?" Sou uma raposa. Não como trigo. Só como galinhas. O trigo não s

Ser ou Seres

Ser plenamente eu. Cosmopolitamente. Dilatado, compacto, coletivo. Líquido, sólido e gasoso. Ser o que não posso ser em outro lugar O que desisti de ser o que sonhei ser e fracassei O que não quis ser e me consolei Ser o que não posso ser Ser o que serei e ser hoje Em todas as partes e de todas as formas ser o quanto suporto o quanto existe, o quanto me caibo - Uma praia de existência! Ser o que escolho, o que me escolhem Re-significando, adequando, revoltando... Ser do outro e de mim a partir de mim e do outro Ser original e plagiador Com vários olhos, lentes e biografias lançando mão de todos os léxicos, enciclopédias, jornais, revistas e sites Ser todos os poetas, músicos, romancistas teólogos, filósofos, historiadores, educadores em ebulição dentro de mim Ser de todas as tribos, raças e exércitos ser do globo e do meu quintal... ...É a licença da poesia - a arte da esquizofrenia!

Máscaras do Eu

Às vezes eu sou as minhas máscaras e é difícil me desvencilhar delas Por vezes eu me confundo. Olho no espelho e penso que eu sou aquele sem perceber a máscara que visto Mas às vezes me vejo sem máscaras e não me reconheço E são tantas as máscaras que eu não me acostumo! Mais de sete por dia durante 365 dias por ano que até completar o rodízio a minha face nua já envelheceu! É preciso me entregar É lúcido me assumir: As minhas máscaras sou eu! Márcio Cardoso

Deus visto como Deus de poder a um Deus adorado como amor (François Varillon)

Toda história da revelação é a da conversão progressiva de um Deus visto como Deus de poder a um Deus adorado como amor. E dizer que Deus é amor é dizer que Deus é todo amor. Tudo está neste “É TODO”. Eu os convido a passar pelo fogo da negação, pois só além dele é que a verdade realmente se destaca. Deus é Todo-poderoso? Não. Deus é todo Amor, não me venham dizer que ele é Todo-poderoso. Deus é infinito? Não, Deus é todo Amor, não me falem de outra coisa. Deus é sábio? Não. Eis o que chamo atravessar o fogo da negação: é absolutamente necessário passar por isso. A todas perguntas a mim dirigidas, responderei: não! não! Deus é todo Amor. Dizer que Deus é Todo-poderoso é propor como pano de fundo um poderio que se pode exercer pela dominação, pela destruição. Há seres suficientemente poderosos para a destruição (vejam Hitler, que matou seis milhões de judeus). Muitos cristãos propõem o Todo-poderoso como pano de fundo e depois acrescentam: Deus é amor, Deus nos ama. Isso é fal

Dialética

Dialética de um Vivo. Sou tão confuso que o melhor de mim é o paradoxo Tanto sei me expor à visita do Belo como à realidade do trágico – às vezes insensível e outras empático Convivo com as sensações e os conceitos tento explicar o que sinto e sentir o que argumento Numa sede desesperada do Carpe Diem e do Maranata colho o efêmero e planto a eternidade Uma parte de mim diz “glória”, a outra diz “misericórdia”: sou pecador e santo, a bela e a fera, o espelho e a imagem Sofro a dor do oprimido e torço a desgraça do opressor quando o opressor não sou eu! Sei ficar quieto e agitado, deprimido e alegre, mascarado e do avesso, moribundo e príncipe Quem serei, quem sou e fui? Quem estou, estive e quem estarei? Quem sentirei, senti, e quem sinto? Sou agora, sou ontem, sou depois – sou um coletivo... Sou assim: um misto de dialética nas minhas entranhas gritando ensurdecedoramente silenciosamente, estridentemente suavemente como o cheiro que acabo de sentir... Todos têm seus heterônimos ou um “

Eduardo Giannetti no livro "Auto-engano"

"Nem sempre o que era desconhecido, mas veio a tornar-se conhecido, restringe-se à descoberta de coisas que são meramente complementares ao estoque de saber preexistente. A tensão entre o antigo e o novo - entre o estoque e o fluxo na busca de conhecimento - gera surpresas e anomalias. O novo conhecimento gerado pode alterar radicalmente o nosso entendimento acerca da natureza do saber preexistente e do seu valor de verdade. O conhecer modifica o conhecido. O desconhecido é uma bomba-relógio tiquetaqueando e pronta para implodir (ou não) o edifícil so saber estabelecido - uma ameaça pusando em tudo o que se mantém de pé. Certeza absoluta, portanto, não há. Afirmá-la seria negar que o desconhecido seja desconhecido. Seria supor a) que a fronteira máxima e intransponível do conhecimento foi alcançada ou, no mínimo, b) que o que falta conhecer é necessariamente "bem-comportado", ou seja, alguma coisa aditiva e não subersiva vis-à-vis o saber preexistente. A primeira hipótes

Oração atribuída a Nietzche traduzida por Leonardo Boff.

Antes de prosseguir em meu caminho e lançar o meu olhar para frente uma vez mais, elevo só, minhas mãos a Ti na direção de quem eu fujo. A Ti, das profundezas de meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em cada momento, Tua voz me pudesse chamar. Sobre esses altares estão gravadas em fogo estas palavras: “Ao Deus desconhecido”. Seu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegos. Seu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo. Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servi-lo. Eu quero Te conhecer, desconhecido. Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida. Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero Te conhecer, quero servir só a Ti. Friedrich Nietzsche (1844-1900)

Trecho de Cartas do Inferno, de C.S. Lewis

Você deve ter ser perguntado muitas vezes por que o inimigo [Deus] não usa com mais frequência o poder de se mostrar sensivelmente presente nas almas humanas em qualquer grau que ele queira a qualquer momento. Mas agora você percebe que o irresistível e o indisputável são as duas armas que a própria natureza da sua estratégia o proíbe de usar. Para ele seria inútil apenas anular a vontade humana (pois isso certamente aconteceria se a sua presença fosse sentida num grau superior ao mais tênue e ao mais mitigado). Ele não pode arrebatar. Pode apenas cortejar. Pois a sua detestável ideia é ter os dois pássaros na mão e nenhum voando; as criaturas devem ser um com ele, mas devem assim mesmo permanecer elas mesmas; meramente anulá-las, ou assimilá-las, não servirá... Mais cedo ou mais tarde ele retira todo apoio e todo incentivo, se não de fato, pelo menos da consciência das suas criaturas. Ele deixa a criatura andar com as suas próprias pernas – para cumprir com base apenas na vontade deve

Celibate or Celebrate?

Por Lya Luft "Lembrei-me agora da deliciosa historinha do monge muito velho, quase centenário, que num remoto mosteiro pede a um monge bem moço que o ajude ainda uma vez a ir à biblioteca que guarda preciosos alfarrábios. Pela última vez, ele quer folhear uma enciclopédia ou encíclica papal, algo assim - a princípio, o moço não entende direito. O jovem monge instala, então o velhíssimo velhinho junto a uma mesa imensa, tudo lá é muito grande e muito antigo. Mesa de carvalho, claro. É um aposento secreto no fundo da biblioteca, onde só os monges iniciados entram. O rapaz consegue o livrão, coloca-o na mesa diante do velhíssimo velhinho e sai, dizendo: "Qualquer coisa, toque essa sineta que eu venho acudi-lo". Passa-se o tempo, o jovem monge se distrai com seus afazeres, até que se lembra: e o ancião, como estará? Preocupa-se com o longo silêncio? - será que ele morreu? Corre até o fundo da biblioteca, até a sala secreta, e encontra o velho monge batendo repetidamente a

Indico a todos os compositores!!!

Um filme que muito me emocionou e vem me inspirando! Indico a todos que trabalham compondo canções. Visitem o site http://www.palavraencantada.com.br/ "Palavra (En)Cantada percorre uma viagem na história do cancioneiro brasileiro com um olhar especial para a relação entre poesia e música. Dos poetas provençais ao rap, do carnaval de rua aos poetas do morro, da bossa nova ao tropicalismo, o filme traça um panorama da música brasileira até os dias de hoje, costurando depoimentos emocionantes, performances musicais e surpreendentes pesquisa de imagens." Um filme de Helena Solberg e Márcio Debellian Depoimentos de Chico Buarque, Adriana Calcanhoto, Arnaldo Antunes, Lenine, Jorge Mautner, José Miguel Wisnik, Luiz Tatit, Maria Bethânia, Martinho da Vila, Paulo César Pinheiro, Tom Zé, Zélia Duncan, entre outros...

Ela Canta, Pobre Ceifeira (Fernando Pessoa)

Ela canta, pobre ceifeira Julgando-se feliz talvez; Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia De alegre e anónima viuvez, Ondula como um canto de ave No ar limpo como um limiar, E há curvas no enredo suave Do som que ela tem a cantar. Ouvi-la alegra e entristece, Na sua voz há o campo e a lida, E canta como se tivesse Mais razões p'ra cantar que a vida. Ah! canta, canta sem razão! O que em mim sente 'stá pensando. Derrama no meu coração A tua incerta voz ondeando! Ah, poder ser tu, sendo eu! Ter a tua alegre inconsciência, E a consciência disso! Ó céu! Ó campo! Ó canção! A ciência Pesa tanto e a vida é tão breve! Entrai por mim dentro! Tornai Minha alma a vossa sombra leve! Depois, levando-me, passai!