"Nem sempre o que era desconhecido, mas veio a tornar-se conhecido, restringe-se à descoberta de coisas que são meramente complementares ao estoque de saber preexistente. A tensão entre o antigo e o novo - entre o estoque e o fluxo na busca de conhecimento - gera surpresas e anomalias. O novo conhecimento gerado pode alterar radicalmente o nosso entendimento acerca da natureza do saber preexistente e do seu valor de verdade. O conhecer modifica o conhecido. O desconhecido é uma bomba-relógio tiquetaqueando e pronta para implodir (ou não) o edifícil so saber estabelecido - uma ameaça pusando em tudo o que se mantém de pé.
Certeza absoluta, portanto, não há. Afirmá-la seria negar que o desconhecido seja desconhecido. Seria supor a) que a fronteira máxima e intransponível do conhecimento foi alcançada ou, no mínimo, b) que o que falta conhecer é necessariamente "bem-comportado", ou seja, alguma coisa aditiva e não subersiva vis-à-vis o saber preexistente. A primeira hipótese implica um dogmatismo descabido e terminal; a segunda prejulga, de modo injustificado, o que pela sua própria natureza não se pode saber.
Para quem busca o conhecimento, portanto, e não o ópio de crenças bem enraizadas no solo do acreditar, surpresas e anomalias são achados valiosos (...)
A surpresa é o estopim do saber, uma janela entreaberta para o desconhecido. Diante dela, o pensamento amanhece e desperta do torpor dogmático."
(Eduardo Giannetti em "Auto-engano")
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