Você deve ter ser perguntado muitas vezes por que o inimigo [Deus] não usa com mais frequência o poder de se mostrar sensivelmente presente nas almas humanas em qualquer grau que ele queira a qualquer momento. Mas agora você percebe que o irresistível e o indisputável são as duas armas que a própria natureza da sua estratégia o proíbe de usar. Para ele seria inútil apenas anular a vontade humana (pois isso certamente aconteceria se a sua presença fosse sentida num grau superior ao mais tênue e ao mais mitigado). Ele não pode arrebatar. Pode apenas cortejar. Pois a sua detestável ideia é ter os dois pássaros na mão e nenhum voando; as criaturas devem ser um com ele, mas devem assim mesmo permanecer elas mesmas; meramente anulá-las, ou assimilá-las, não servirá... Mais cedo ou mais tarde ele retira todo apoio e todo incentivo, se não de fato, pelo menos da consciência das suas criaturas. Ele deixa a criatura andar com as suas próprias pernas – para cumprir com base apenas na vontade deveres que perderam todo o atrativo... Ele não pode “tentar” a pessoa à virtude como nós tentamos ao vício. Ele quer que elas aprendam a andar e, portanto, lhes retira o seu apoio... A nossa causa nunca corre maior perigo do que quando um ser humano, que não mais deseja, mas ainda tenciona fazer a vontade do nosso inimigo, observa em torno de si um universo do qual parece ter desaparecido todo vestígio dele, e então pergunta por que ele o abandonou sem deixar de obedecer.
Cartas do Inferno, C.S. Lewis
Comentários
Boa lembrança o trecho do livro.
tem deixado minha turma inquieta (rsrsrs) obriga-nos a reflexão. Muito bom.