Pular para o conteúdo principal

Celibate or Celebrate?

Por Lya Luft


"Lembrei-me agora da deliciosa historinha do monge muito velho, quase centenário, que num remoto mosteiro pede a um monge bem moço que o ajude ainda uma vez a ir à biblioteca que guarda preciosos alfarrábios.

Pela última vez, ele quer folhear uma enciclopédia ou encíclica papal, algo assim - a princípio, o moço não entende direito. O jovem monge instala, então o velhíssimo velhinho junto a uma mesa imensa, tudo lá é muito grande e muito antigo. Mesa de carvalho, claro.

É um aposento secreto no fundo da biblioteca, onde só os monges iniciados entram. O rapaz consegue o livrão, coloca-o na mesa diante do velhíssimo velhinho e sai, dizendo: "Qualquer coisa, toque essa sineta que eu venho acudi-lo".


Passa-se o tempo, o jovem monge se distrai com seus afazeres, até que se lembra: e o ancião, como estará? Preocupa-se com o longo silêncio? - será que ele morreu? Corre até o fundo da biblioteca, até a sala secreta, e encontra o velho monge batendo repetidamente a cabeça no tampo da mesa.


- Mestre, o que houve? O senhor vai se machucar!!


O monge centenário chora e repete certas palavras que o moço custa a entender:
- Imagine, imagine!! A palavra de ordem, a recomendação, a essência, não era celibate, mas celebrate!!!!"


Logicamente, em inglês a coisa tem mais graça, mas mesmo quem lê aqui há de entender: desperdiçamos tempo, vida e energia sofrendo por bobagens, arruinando as alegrias, ignorando os afetos, trabalhando mais do que seria necessário para a nossa dignidade, curtindo mais o negativo do que o positivo, quando afinal a ordem divina metafórica é que não precisamos fazer o sacrifício do celibato , mas celebrar a vida.

Pessoalmente, sempre acreditei que a melhor homenagem que se faz a uma divindade, se nela acreditamos, é celebrar - respeitando, amando, curtindo, cuidado - a vida, a natureza, a arte, o enigma de tudo.


Comentários

Olá, gostei do seu blog, se quiser passar no meu e dar uma olhada, fique a vontade!
www.blogdagloriabg.blogspot.com
Unknown disse…
Boa história Márcio.
O texto durante todos os anos de vida do ancião estava sempre na sua leitura.

Abração
Suy Ellen Rose disse…
Vamos celebrar mais!Amei o texto,abração!!

Postagens mais visitadas deste blog

"Pureza de coração é desejar uma única coisa" (Sören Kierkegaard). Inspirado nessa verdade escrevi esta canção.

O Único Necessário Venha lapidar o meu querer possa meus desejos converter já sei o que pra mim é elementar mas luto contra o mal que perto está! Muitas são as fontes pra beber que distraem o meu interior de todas essas quero me abster - suspira o meu ser pelo Senhor! Tu és o meu único Desejo realmente nobre e necessário o jejum de ti é imprudência o seu rumo encontra a falência És Jesus, o Pão que me dá Vida Água que da Sede me sacia o Endereço certo da chegada Casa boa pra minha pousada!

Deus não é perfeccionista.

No livro de Gênesis, na poesia da criação, há um refrão que o Criador repete de boca cheia ao contemplar a obra que havia feito: “Bom. Bom. Muito bom!” . A frase traduz muito mais um deleite, uma gratidão – festa da memória – do que uma constatação de ter alcançado a perfeição, o definitivo, o acabado. Reflita. O Criador conseguiria ou não aperfeiçoar os mares, o sol, as estrelas? Melhorar um pêssego? Se sim, as estrelas, o sol, os mares, o pêssego não são perfeitos, apesar de serem maravilhosos! Mas para Deus já estava bom. Não estava perfeito, mas Deus deu por encerrada a sua obra. E com gratidão. Lembre-se também da frustração de Deus com as decisões livres dos homens e mesmo assim sua estima, gratidão e esperança pela humanidade não se cansam. Quem sofre com o perfeccionismo não se deleita porque não consegue terminar o que está fazendo. Nunca se dá por satisfeito porque nunca alcança a perfeição. “Bom” para um perfeccionista é muito ruim. Para ele tem que ser perfeito. D...

Recorte de Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski.

- Piedade! Por que ter piedade de mim? – berrou de súbito Marmieládov, levantando-se de braço estirado para a frente, com uma inspiração firme, como se estivesse apenas esperando tais palavras. – Porque piedade? perguntas tu. Sim! Não há por que ter piedade de mim! O que é preciso é me crucificar, me pendurar numa cruz, e não ter piedade! Mas crucifica, juiz, crucifica, e depois de crucificar tem piedade dele! E então eu mesmo te procurarei para ser crucificado, pois não é de alegria que tenho sede, mas de tristeza e lágrimas!... Pensas tu, vendeiro, que essa tua meia garrafa me trouxe prazer? Tristeza, foi tristeza que procurei no seu fundo, tristeza e lágrimas, e as provei, e encontrei; terá piedade de nós aquele que teve piedade de todos e que a todos e tudo compreendeu, Ele é o único e também o juiz Ele voltará no dia do juízo e perguntará: “Onde está a filha [prostituta] que se sacrificou por uma madrasta má e tísica, por crianças estranhas e pequenas? Onde está a filha que teve p...