Os movimentos do nosso coração, nossa força empreendida, os sonhos desejados, a nossa visão de mundo, a maneira como organizamos a nossa vida, nossa religião e liturgia, por vezes é influenciado pela sociedade; sociedade esta de consumo, do descartável, do imediatismo, do midiático, do utilitarismo, da concorrência, do ufanismo, do triunfalismo, do mito, do endeusamento do corpo e dos campeões, entre outras coisas...
Num mundo como este os nossos olhos vão ficando cada vez mais cegos para as coisas mais modestas, para o Reino que acontece também no anonimato ("o Reino é como uma semente plantada..."), para os fracos, para os perdedores, para as amizades que requerem tempo, para aqueles que não tem o padrão de beleza imposto, para aqueles que tem alguma dificuldade motora, para as crianças, para os pobres e para os prazeres pequenos do dia a dia.
Daí, no natal, se repete o que aconteceu no nascimento de Jesus: poucos perceberam o Deus de fraldas! Poucos perceberam o "pequeno Deus".
E por que não perceberam?
Porque estavam interessados no "grande deus", estavam ocupados no seu comércio, estavam com olhos voltados para a sinagoga, para o castelo, para César; estavam voltados para o seu umbigo.
A mais maravilhosa revelação aconteceu no anonimato, e só quem teve bons olhos ("o essencial é invisível aos olhos") é que pode enxergar a "pequena alegria".
Quem viu o menino Deus?
Uma camponesa saindo da adolescência - Maria - quem primeiro viu o Deus "encolhido", quem ouviu Deus procurando fôlego no seu primeiro choro.
Quem viu o Verbo que se fez gente?
José, marido de Maria, que temeu ao anúncio! Que esteve ao lado de sua esposa todo o tempo e pegou Deus no colo!
Quem viu o Criador que se fez neném?
Os magos que vieram do Oriente conduzido por uma estrela bem mais brilhante que a estrela do céu, uma estrela no seus corações, que os iluminou para a Revelação que se deu no escuro fétido de uma estrebaria!
Quem viu o Deus com cólicas?
Os pastores, gente sempre debaixo de suspeita, mas que tinham um trabalho no qual poderiam acolher o silêncio, a imaginação, a fé pelo simples fato de estarem no campo; e que ouviram os anjos cantarem, pois podiam dar uma pausa no barulho da cidade.
Quem viu o pequenino Deus?
Simeão, que não deixou seu ouvido se entupir com as vozes do século, e ouviu do Espírito Santo que antes de morrer veria o Cristo do Senhor! Quando Jesus completou 8 dias de vida e seus pais o levaram para ser circuncidado, ainda na fila, Simeão enxergou o que passou despercebido por todos que participavam do ritual.
Quem viu Jesus?
Ainda na circuncisão, quem viu o Deus criança foi a viúva Ana, já velhinha; que viveu casada apenas por 7 anos, e que há 84 anos tinha perdido o seu marido. Naquele momento, quando Ana adorava a quem não via, seus olhos se abriram para ver o Deus encarnado!
E nesta semana, no natal de 2010, quem verá o Cristo?
Certamente, aqueles que não se deixam confundir pelo brilho das cidades, pela fama do mundo, pelas regras do jogo de consumo, pelo ufanismo da religião, pela ansiedade do "ter que ter", pelo triunfalismo das instituições.
Desejo a todos um natal e uma vida que valorize as pequenas alegrias; olhos que percebam o anônimo e o invisível; colo que abrace os que fracassaram; lábios que beijem o pecador; coração que acolha não a árvore da religião, mas a semente do Reino.
Numa terra de poderosos vou dar as mãos ao fraco; num mundo de deuses vou abraçar o humano; num país de gente grande vou ninar o menino Jesus!
Naquele que se fez pequenino para que os pequenos pudessem enxergar,
Márcio Cardoso
Comentários
Deixemo-nos contagiar por essa Pequena Alegria!!!!
A tristeza que sobrevem sobre todos nós repentinamente não pode
ofuscar o brilho que aponta para Nossa Esperança!
Boas Festas!!!
Abração!
Wendel Cavalcante