Sempre se esquece que o filósofo, tal como o poeta, é o portador de futuros entre nós e pode contar menos do que os outros com a participação de sua época. Filósofos e poetas são contemporâneos de pessoas de um futuro longínquo e, tão logo prescindam de agitar seu vizinho, não têm motivo algum para criar ordens e tirar conclusões em seu desenvolvimento, exceto aquelas compilações sistemáticas que lhes são necessárias para uma visão geral de sua situação e que, no entanto, são sempre destruídas de novo por eles mesmos em benefício de seu próprio progresso interior. Tão logo sua conquista seja sistematizada e expressa em palavras, e alunos, discípulos e amigos se alinhem em favor dela e inimigos se precipitem contra ela, o filósofo não tem mais o direito de sacudir os fundamentos do sistema doravante habitado e de pôr em risco os milhares de indivíduos que tiram sustento dele. Ele obstruiu seu próprio progresso implacável, que talvez pudesse se erguer apenas sobre as ruínas dessa ordem; e aquele que ainda ontem era o senhor ilimitado de seu mil desenvolvimentos e podia se entregar regiamente a cada nuança de sua vontade é agora apenas supremo criado de um sistema que a cada dia fica maior que seu fundador. Filósofos deveriam ser pacientes e esperar, e não querer fundar uma soberania, nem um reino que se mantenha com os meios de seu tempo. Eles são os reis do vindouro, e suas coroas ainda são unas com os minérios que enchem as veias das montanhas...
O fato é que as pessoas mais progressistas dão coisas ao futuro e por isso devem ser duras com o presente; elas não têm pão para os famintos – por mais que assim lhes pareça... elas têm pedras, que aos contemporâneos parecem ser pão e alimento, mas que no fundo servirão de alicerce para os dias vindouros, algo que elas não devem dar de presente. Pense na liberdade infinita do indivíduo sem fama e desconhecido; é essa liberdade que o filósofo deve conservar para si; ele pode ser uma pessoa nova todo dia, um refutador de si mesmo.
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