Os momentos de louvor comunitário em nossos dias andam cheios de enfeites: instrumentos dos mais diversos, corais, orquestras, coreografias, luzes, palco, figurinos, sonoplastia, pinturas, desenhos... Enfim, todas as artes no momento da adoração ao Rei.
É bem verdade que estamos devendo muito com relação ao conteúdo, mas esta é história para outro artigo!
Em todo caso os dirigentes da música na igreja estão lançando mão de vários recursos para ornamentar o culto a Deus.
Nada contra a sofisticação, a ousadia e a criatividade. Pelo contrário, creio que devemos ser criativos em nossa liturgia e exalar beleza em nossa arte – salve(m) à Estética! Minha preocupação é quando toda essa pomposidade ofusca a beleza de Deus; serve como um fim em si mesma e não como uma ferramenta que aponta o mais formoso dentre os homens - a beleza das artes pelas artes e não a beleza das artes para Deus.
Fico a me perguntar se nesses grandes movimentos gospel a adoração das pessoas é uma resposta à beleza de Cristo ou ao carisma do ministrante; é uma reação à santidade de Deus ou ao do showman; tem um fim nas faces do Senhor ou se distrai com os canhões de luzes; é um encantar-se pela majestade do Rei dos reis ou pelo “poder” daquele que detém o microfone.
Lamento dizer que muitos dos púlpitos evangélicos se tornam um espaço para o exercício da vaidade e do poder: o levita pavão, o sacerdote leão! (ou vice-versa).
Essa tentação é fato! Aqueles que pisam no púlpito sabem disso. Alguns chegam como pretensos messias, crentes que vão dividir a história daquela platéia em duas partes: antes deles e depois deles; certos de que vão ser pessoas chaves naquele grande evento e que suas orações vão coagir um mover do Espírito Santo! Adoração não tem nada a ver com isso!
Outros constroem seus eventos que servem de vitrine de suas igrejas, exibindo sua habilidade de mobilização e administração alimentando assim a vaidade.
Quantas orações já fiz no momento do louvor, orações distantes do meu coração apenas para manipular uma situação; quantos jargões usei porque sabia que surtiria algum efeito; quantos cultos terminei envergonhado, pedindo perdão a Deus pois falei de coisas que não conhecia, coisas maravilhosas demais pra mim, adorei com os lábios, mas com o coração longe! (Muitas vezes essa confissão vinha logo após o clichê, à oração distante...).
Adoração tem a ver com o sacrifício do ego, da vontade, do poder, do pecado.
Lembro-me de Abraão no monte Moriá que, na iminência de sacrificar seu filho, fala para os seus servos: “ficai-vos aqui com o jumento, e eu e o moço iremos até ali; e, havendo adorado, tornaremos a vós” (Gn 22.5).
Para Abraão estava claro: aquilo seria (e foi!) um ato de adoração onde ele sacrificou sua vontade. Abraão sacrificou seu filho sem sacrificar! Mesmo sem imolar Isaque, Abraão o sacrificou a Deus (o texto deixa claro que ele iria até o fim!).
Meu apelo não é para acabarem com as luzes, figurinos, danças...(nem tenho influência para isso) Não! A igreja evangélica já está por demais “pelada” de estética! Mas sim que resistamos à idolatria, egolatria; sacrifiquemos o ego quando subirmos no altar para ministrar; que toda a beleza que houver aponte tão somente para o Único Belo; que os ornamentos usados não impeçam os nossos olhos de olharem para o rosto da nossa Esperança; que vençamos a tentação de deter os olhos dos homens sobre nós e possamos refletir como espelhos a glória de Deus; que nos livremos do peso de atrair a glória do Senhor, sua presença já é fato, promessa cumprida!
Adoração é a resposta do homem à beleza do Criador. Viu o homem que Deus é belo! É o instante em que, ao se deparar com a formosura do Senhor, o homem constata que todas as outras coisas são irrelevantes – Deus é o Único Necessário. O nosso irmão Kierkegaard já disse que “pureza de coração é desejar uma única coisa”. Se esse momento não acontecer o serviço falhou, adoração a Deus não houve e adoramos a criatura ao invés do Criador!
Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória!
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