Salmo 123
A ti levanto os meus olhos, a ti, que ocupas o teu trono nos céus.
Assim como os olhos dos servos estão atentos à mão de seu senhor
e como os olhos das servas estão atentos à mão de sua senhora,
também os nosso olhos estão atentos ao Senhor, ao nosso Deus,
esperando que ele tenha misericórdia de nós.
Misericórdia, Senhor! Tem misericórdia de nós!
Já estamos cansados de tanto desprezo.
Estamos cansados de tanta zombaria dos orgulhosos
e do desprezo dos arrogantes.
O salmo 123 está contado entre os poemas de subidas que vai do salmo 120 ao salmo 134. Essa parte do saltério é também conhecida como cânticos de romagem/romaria, cânticos dos degraus ou cânticos de peregrinação.
Quer sejam poemas cantados pelos peregrinos a caminho de Jerusalém, quando subiam para o Templo na época das festas sagradas como dizem alguns; quer sejam cânticos cantados pelos exilados que voltavam da Babilônia a Jerusalém ou cantados pelos levitas sobre os quinze degraus que levavam ao Templo como dizem outros; ou ainda, cânticos entoados quando os hebreus levavam seus animais em sacrifício na rampa que os conduzia ao altar, todas essas interpretações apontam em comum para uma ascensão, uma subida ao local onde a comunidade de fé se reúne para adorar, ouvir a palavra e comungar.
O nosso peregrino do salmo (eu/você) vai ao local de adoração (o espaço e o tempo não importam!) com uma visão do mundo que o cerca. Ele vai indignado, desprezado, saturado, humilhado, violentado, cansado, desgostoso, sem esperanças – sua fé é humana e engajada! O nosso irmão não é alienado, escapista ou viciado em ópio religioso; o movimento ao seu redor lhe diz respeito, ele tem olhos para ver, boca para falar, peito para se indignar. O adorador vai ao Templo carregando em sua aljava a cena dos políticos corruptos, dos líderes religiosos oportunistas, da vida que se torna insignificante, da violência demasiada, da falta de ideais, do cinismo dos humanos, da banalização do sagrado, da democracia forçosa em nome da liberdade, do culto à futilidade, cena essa que lhe engole as forças, corrói a alma, que o faz flertar com o pessimismo e beirar a desilusão. Essas imagens viram seus fantasmas e cada vez se agigantam mais, perturbam-lhe o sono, tornam-se o seu lamento...
A primeira cena lhe desanima, mas ele insiste e faz o movimento da fé: levanta os olhos. A ti levanto os meus olhos, a ti, que ocupas o teu trono nos céus.
Aquele que “sobe ao Templo” tem uma imagem que vai para além de sua realidade primeira: Deus assentado no seu trono nos céus! E nessa cena põe seu olhar, pois sabe que o objeto de sua adoração está onde ele fita os olhos.
Ter os olhos fitos na imagem que nos cerca é idolatria, nocivo e desesperador (olhos que percebem a realidade sim, olhos fitos nela não!); guardar a imagem no templo é amar a Deus sobre tudo, é ter esperança contra as esperanças e ter um Deus a quem pedir, capaz de dar conta de nossas confusões (olhos fitos nEle sim, alienados não!).
Essa visão é sua salvação, posto que está sobre à primeira cena onde ele não tem e nem deve ter esperanças. É a visão do Inteiramente Outro que também vê, mas que não enxerga de lado e nem por baixo – Deus vê por cima! E porque vê de cima é que Deus se torna a esperança do poeta; ele não tem esperança em outra força, poder, sistema, governo, instituição, ele clama “misericórdia, Senhor! Tem misericórdia de nós!”
Ele olha e esse olhar é de menor carente, “olhar de pidão” como de um servo ao seu senhor que anseia por um alívio, não por uma ordem; que para Deus pede “pinico” diante do caos do mundo; que anseia pelo Jubileu, pela intervenção de Deus com suas ternas misericórdias.
E assim o salmista cultua: entre duas visões. A que ele tem de sua realidade que se torna o material de sua oração e a que ele tem de Deus assentado no trono nos céus, que se torna o objeto de sua adoração e âncora de esperança!
A ti levanto os meus olhos, a ti, que ocupas o teu trono nos céus.
Assim como os olhos dos servos estão atentos à mão de seu senhor
e como os olhos das servas estão atentos à mão de sua senhora,
também os nosso olhos estão atentos ao Senhor, ao nosso Deus,
esperando que ele tenha misericórdia de nós.
Misericórdia, Senhor! Tem misericórdia de nós!
Já estamos cansados de tanto desprezo.
Estamos cansados de tanta zombaria dos orgulhosos
e do desprezo dos arrogantes.
O salmo 123 está contado entre os poemas de subidas que vai do salmo 120 ao salmo 134. Essa parte do saltério é também conhecida como cânticos de romagem/romaria, cânticos dos degraus ou cânticos de peregrinação.
Quer sejam poemas cantados pelos peregrinos a caminho de Jerusalém, quando subiam para o Templo na época das festas sagradas como dizem alguns; quer sejam cânticos cantados pelos exilados que voltavam da Babilônia a Jerusalém ou cantados pelos levitas sobre os quinze degraus que levavam ao Templo como dizem outros; ou ainda, cânticos entoados quando os hebreus levavam seus animais em sacrifício na rampa que os conduzia ao altar, todas essas interpretações apontam em comum para uma ascensão, uma subida ao local onde a comunidade de fé se reúne para adorar, ouvir a palavra e comungar.
O nosso peregrino do salmo (eu/você) vai ao local de adoração (o espaço e o tempo não importam!) com uma visão do mundo que o cerca. Ele vai indignado, desprezado, saturado, humilhado, violentado, cansado, desgostoso, sem esperanças – sua fé é humana e engajada! O nosso irmão não é alienado, escapista ou viciado em ópio religioso; o movimento ao seu redor lhe diz respeito, ele tem olhos para ver, boca para falar, peito para se indignar. O adorador vai ao Templo carregando em sua aljava a cena dos políticos corruptos, dos líderes religiosos oportunistas, da vida que se torna insignificante, da violência demasiada, da falta de ideais, do cinismo dos humanos, da banalização do sagrado, da democracia forçosa em nome da liberdade, do culto à futilidade, cena essa que lhe engole as forças, corrói a alma, que o faz flertar com o pessimismo e beirar a desilusão. Essas imagens viram seus fantasmas e cada vez se agigantam mais, perturbam-lhe o sono, tornam-se o seu lamento...
A primeira cena lhe desanima, mas ele insiste e faz o movimento da fé: levanta os olhos. A ti levanto os meus olhos, a ti, que ocupas o teu trono nos céus.
Aquele que “sobe ao Templo” tem uma imagem que vai para além de sua realidade primeira: Deus assentado no seu trono nos céus! E nessa cena põe seu olhar, pois sabe que o objeto de sua adoração está onde ele fita os olhos.
Ter os olhos fitos na imagem que nos cerca é idolatria, nocivo e desesperador (olhos que percebem a realidade sim, olhos fitos nela não!); guardar a imagem no templo é amar a Deus sobre tudo, é ter esperança contra as esperanças e ter um Deus a quem pedir, capaz de dar conta de nossas confusões (olhos fitos nEle sim, alienados não!).
Essa visão é sua salvação, posto que está sobre à primeira cena onde ele não tem e nem deve ter esperanças. É a visão do Inteiramente Outro que também vê, mas que não enxerga de lado e nem por baixo – Deus vê por cima! E porque vê de cima é que Deus se torna a esperança do poeta; ele não tem esperança em outra força, poder, sistema, governo, instituição, ele clama “misericórdia, Senhor! Tem misericórdia de nós!”
Ele olha e esse olhar é de menor carente, “olhar de pidão” como de um servo ao seu senhor que anseia por um alívio, não por uma ordem; que para Deus pede “pinico” diante do caos do mundo; que anseia pelo Jubileu, pela intervenção de Deus com suas ternas misericórdias.
E assim o salmista cultua: entre duas visões. A que ele tem de sua realidade que se torna o material de sua oração e a que ele tem de Deus assentado no trono nos céus, que se torna o objeto de sua adoração e âncora de esperança!
Comentários