Eternidade
Ó Eternidade que mora dentro de mim,
de que era vem, qual civilização e a que horas?!
Quem foi o seu fiador,
por que de mim se agradou, Inquilino Atemporal?
Como vai pagar o aluguel de tantos anos que nem sei?
E como se não bastasse a inadimplência,
a morte que me faz sentir
quando minha obra imperfeita,
minha vida contingente e minha caça apaixonada
ficam sempre aquém do seu Ideal...!
Mas, afinal de contas, quem deve a quem?
Você mora em mim ou eu moro em você, Eternidade?
Se eu moro em você, esse preço é muito alto:
estar sempre descontente –
(Você já soprou em Pessoa: “descontente é ser homem”);
estar sempre caçando;
cheirando esse cheiro do místico que me traz lembranças de casa, do jardim, do útero...
Não, Eternidade!
Sou mortal e isso não suporto!
Mas se mora em mim por que essa ansiedade,
a sede de transcendência, de intimidade com o Invisível...?
Por que não me paga justamente?
Não teria outro valor
ou esse é o valor que a mim deve pagar
se é que em mim habita?!
Estou cansado com essa Febre.
Façamos um trato:
por que não me deixa de vez,
não me deve nada
e eu também não...
Fico com a minha vida-rotina
sem nenhum perfume do Além que me lembre que sou peregrino.
Ficarei contente por julgar ter alcançado a caça sempre por achar;
repousado na minha poltrona de enganar,
perdido de mim mesmo sem nenhum mapa pra voltar
adiando meu sepulcro porque jaz estarei.
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