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O Milagre da Restrição

O Milagre da Restrição

Fazer milagres para Jesus não representava um desafio! O maior desafio para Cristo era não fazer milagre. Isto realmente era o Milagre.
Jesus foi 100% Deus e 100% homem, como dizem os teólogos. Transformar pedra em pão, lançar-se num abismo para ser acudido, tirar água da rocha, tudo isso era possível para Jesus. Mas para Cristo não estava em questão se ele era divino, mas em sendo divino poder ser humano!
Lançar mão das prerrogativas divinas como um atalho para a sua missão representava uma grande tentação para Jesus. Ele próprio enxergou assim! Segundo Philip Yancey

(...) na ausência de testemunhas oculares, todos os pormenores devem ter vindo do próprio Jesus. Pelo mesmo motivo, Jesus sentiu-se obrigado a revelar aos discípulos esse momento de luta e de fraqueza pessoal. Creio que a tentação foi um conflito genuíno, não um papel que Jesus representou com um resultado predeterminado. O mesmo tentador que encontrou um ponto fatal na vulnerabilidade de Adão e de Eva dirigiu o seu golpe contra Jesus com exatidão mortal.
[1]

Milagre por milagre, para esbanjar poder não interessava a Jesus. Este seria um papel para um deus com crise de identidade ou um tipo de deus narcisista. Não! Ele sabia de onde veio, qual era o seu nome e que era amado pelo Pai. O batismo foi taxativo e determinante nesse sentido: “Tu és o meu filho amado em quem me comprazo!”.
O verdadeiro desafio na vida de Jesus era não operar milagres, e nesse caso Jesus faz um Milagre maior. Nas palavras de Dostoievski Jesus realizou o “milagre da restrição”!
Ele abriu mão de fazer sua missão à custa de demonstração de poder, de promessas de “pão e circo”; de promessas generosas do ano da eleição; de milagre de prosperidade com o intuito de atrair adeptos. Jesus resistiu à tentação que muitas igrejas hoje não conseguem.
Para muitas igrejas o ingrediente fundamental é a operação de milagres, dos mais questionados e tolos (cura de dor de cabeça, de um câncer que a pessoa nem sabia que tinha!), passando pelos bizarros (pó de ouro nas mãos, dente de ouro), até os mais esquizofrênicos (imitar leão, colar-se na parede). E eu fico me perguntando: por que esses fazedores de milagres não vão para as partes mais pobres do mundo e produzem pó de ouro? Por que não fazem cultos especialmente para anões, para aqueles que sofrem paralisia cerebral, coxos e promovem curas?
Infelizmente a religião está se prostrando diante do diabo em troca de ganhar o mundo todo (dinheiro e prestígio, principalmente!), tentação que Cristo acusou logo como idolatria!
Só o que movia o poder divino de Cristo eram a compaixão e a empolgação em sinalizar o Reino dos Céus. Ele enxergava os pobres, oprimidos, pecadores, aqueles que os outros diziam serem pecadores (carma religioso), os estigmatizados (cobradores de impostos, pastores, mulheres, crianças), os doentes, leprosos, e não podia conter o seu poder de cura, milagre.
A motivação para Jesus fazer milagres era muito mais nobre; era mais do que agradar um empresariozinho que está falindo, um artista que perdeu a graça, dar uma BMW para o avarento, fazer crescer uma igreja, conseguir um programa de TV para uma apóstolo-pastor-bispo-pavão, atender uma “oração bem feita” do legalista, dar um terreno para quem vende seu voto... Jesus não era tão mesquinho. A motivação era nobre: compaixão!
Para Cristo, qualquer motivação para o milagre que não fosse a compaixão, era tentação do Diabo, corria o risco de estar questionando o amor do Pai ou de pretender oprimir pelo Poder!
Sim: Oprimir pelo poder, pois é tudo o que o poder promovido pelos “sinais prodigiosos” faz. A liberdade recebe o xeque mate diante daquele que detém o poder. Opa! Não será essa a grande façanha do Anti-Cristo: atrair com força centrífugo-econômica e exigir prostração?
Será que já não temos muitas versões de anticristos espalhados no mundo e religiões: líderes demonstrando poder bélico, econômico, místico para oprimir, convencer, prender e matar?
Cristo não faz este caminho, pois sabe que só em ambiente livre o amor pode fluir - a “fé necessária é gratuita, não fundamentada em milagres”, para citar novamente Dostoievski. O poder pode forçar a obediência, mas apenas o amor pode provocar a reação de amor, e este só nasce num ambiente de liberdade sem a opressão do poder.
Quiçá a igreja brasileira aprenda com Cristo o milagre da restrição, assuma sua humanidade, seja mais modesta semelhante à semente lançada na terra, adore a Deus nos dias ordinários e tenha como essência da sua proclamação não os milagres e prodígios, mas o Deus-homem: Jesus Cristo!

[1] Philip. Y, O Jesus que eu nunca conheci. Ed. Vida, pg. 72.

Comentários

IaGo AraúJo disse…
e ai kra..eh isso ai,neh!?! Como diz o pastor Elienai..JEsus num eh um "Sovadão", pronto pra nos alimentar físicamente..Ele nos alimenta pq isso faz parte do seu carater(hb 10.6)..
e essa históriade ouro nas mãos..rs
esse texto foi reflexo de nossas conversas?! rs!
um abraço kra..
bora ocnversar mais!
vou te pedir q tuh prepare um texto pra colocar no meu blog..pode ser..?

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