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Mostrando postagens de março, 2007

Socorro

Rasguei minha boca pedindo socorro. Estavam distraídos: Engodados em seus vícios defendendo suas terras suas idéias argumentando guerreando suas guerras e o país demarcando. Intolerantes com os fracos aos gemidos, insensíveis ao sangue da chacina daltônicos Indobráveis à flor e ao amor, cientistas! Cultuavam seus deuses à sua imagem adorando a si próprios Ultra-homens com poder de fogo e glória nas mãos incapazes da ternura nos olhos e a fragilidade na cruz Expostos à vitrine compravam a moda vestiam a vaidade, esbanjavam moeda Isolavam-se uns dos outros virtualmente, amigavelmente Enchiam-se do supérfluo e do superficial e apesar do entretenimento e do ofício andavam ansiosos, vagos e vazios... Pagavam seus médicos e entorpecentes Viviam morrendo, rasgando suas bocas pedindo socorro e não os ouvia...

GARIMPANDO PALAVRAS – carta aos jovens compositores

Das vezes que sai à procura de CD´s evangélicos foi só para a minha tristeza e decepção. Claro que encontrei trabalhos com beleza, rebuscados, inovadores, mas em maior proporção encontrei trabalhos feios, de extremo mau gosto e em nada comprometidos com a arte. É teimosa a mania dos evangélicos de clonar; a cultura do “Ctrl c”; bater na mesma tecla, tema, expressões, melodias, ritmos que chega a saturação! A maioria dos compositores usa expressões e palavras mais que batidas, sem nenhuma inovação e contribuição para o nosso repertório. A impressão que me dá é que essas criações são feitas de qualquer jeito, numa sentada só. Não consigo imaginar esses compositores quebrando a cabeça; burilando as expressões; garimpando palavras; consultando dicionários; corrigindo ortografia, concordância, prosódia; “brigando” no processo criativo; rabiscando alguns papéis, jogando outros; caminhando para dar vazão ao insight, deixando o tema assentar no coração. O resultado são trabalhos muito semelhan

Quando o belo ofusca o Belo

Os momentos de louvor comunitário em nossos dias andam cheios de enfeites: instrumentos dos mais diversos, corais, orquestras, coreografias, luzes, palco, figurinos, sonoplastia, pinturas, desenhos... Enfim, todas as artes no momento da adoração ao Rei. É bem verdade que estamos devendo muito com relação ao conteúdo, mas esta é história para outro artigo! Em todo caso os dirigentes da música na igreja estão lançando mão de vários recursos para ornamentar o culto a Deus. Nada contra a sofisticação, a ousadia e a criatividade. Pelo contrário, creio que devemos ser criativos em nossa liturgia e exalar beleza em nossa arte – salve(m) à Estética! Minha preocupação é quando toda essa pomposidade ofusca a beleza de Deus; serve como um fim em si mesma e não como uma ferramenta que aponta o mais formoso dentre os homens - a beleza das artes pelas artes e não a beleza das artes para Deus. Fico a me perguntar se nesses grandes movimentos gospel a adoração das pessoas é uma resposta à beleza de Cr

Comentário do Salmo 123

Salmo 123 A ti levanto os meus olhos, a ti, que ocupas o teu trono nos céus. Assim como os olhos dos servos estão atentos à mão de seu senhor e como os olhos das servas estão atentos à mão de sua senhora, também os nosso olhos estão atentos ao Senhor, ao nosso Deus, esperando que ele tenha misericórdia de nós. Misericórdia, Senhor! Tem misericórdia de nós! Já estamos cansados de tanto desprezo. Estamos cansados de tanta zombaria dos orgulhosos e do desprezo dos arrogantes. O salmo 123 está contado entre os poemas de subidas que vai do salmo 120 ao salmo 134. Essa parte do saltério é também conhecida como cânticos de romagem/romaria, cânticos dos degraus ou cânticos de peregrinação. Quer sejam poemas cantados pelos peregrinos a caminho de Jerusalém, quando subiam para o Templo na época das festas sagradas como dizem alguns; quer sejam cânticos cantados pelos exilados que voltavam da Babilônia a Jerusalém ou cantados pelos levitas sobre os quinze degraus que levavam ao Templo como dizem

SEDE DE INTIMIDADE

Aquilo que o ser humano tem de mais precioso é a sua intimidade. A alma e o corpo despidos, as expressões de prazer, o rosto sem maquiagem, as roupas de dormir, esquisitices que não se atrevem a sair pelas portas de casa. Tudo isso é raro e exige um processo gradual para penetrá-lo. Isso, e mais alguns pormenores, o casal que se ama compartilha – é o tesouro que só o cônjuge explora; a coroa que veste bem aquele que fez por onde conquistar; regiões que só quem ama tem acesso. Infelizmente a mídia tem vulgarizado, barateado esse valor. Nunca foi tão fácil, como em nossos dias, invadir a privacidade de alguém, descobrir seu corpo, impurezas, desejos, virtudes, defeitos, enfim, aquilo que lhe torna único. Estão aí os reality shows que deixam os espectadores boquiabertos diante da TV quase entrando pela “fechadura virtual”; a revista playboy disfarçada da expressão glamurosa “nu artístico”; revistas que abrem as portas das mansões de vaidosos exibindo suas coleções de sapatos e chapéus; um

Quem tem olhos para ver veja!

“Se podes olhar vê. Se podes ver repara” é a epigrafe do livro de José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira, que para mim é uma parábola contundente da pós-modernidade, uma metáfora pertinente dos indivíduos que perderam a visão. O livro desenha o estado deplorável em que chega uma sociedade quando um tipo de cegueira toma conta do povo: a luta pela sobrevivência, o estado de bicho, o egoísmo, a intolerância, a exclusão. Trata da opressão que sofrem aqueles que cegaram daqueles ainda por cegar; da hierarquia entre os cegos construída pela lei do mais forte e o pavor que separa os cegos dos não cegos! Foi impossível ler o livro e não ver o retrato dos nossos dias: gente que se esbarra, mas não se toca; vê, mas não repara; pessoas que caminham num breu em plena luz do dia preocupadas apenas com suas vaidades e enfeitiçadas pela cantilena “cada um por si e Deus por todos!”. Penso que nossa sociedade cegou e, a não ser que um tipo de colírio nos salve, estamos fadados à decadência! Na cura de