“Pois nele vivemos, nos movemos e existimos.”
Em muitos arraiais religiosos eu percebo com pesar um
esforço olímpico para que Deus se faça presente, se manifeste, mostre a Sua
glória, como se Deus estivesse na tangência da Terra esperando o momento para entrar
em cena!
Deus não precisa ser invocado para se fazer presente.
Deus a tudo e a todos envolve, em tudo e em todos transparece, de tudo e de
todos emerge. Os teólogos dizem que Ele é onipresente. Deus está totalmente
envolvido com a história humana desde o seu nascedouro. Deus não está à parte
do mundo, do lado de lá, distante. Convocar um Deus que é Todo-Presença é, no
mínimo, contraditório.
Deus está conosco, seu nome é Emanuel. Sua presença se dá
de forma modesta, velada e silenciosa. Como o ar que respiramos sem nos darmos
conta, Deus é o nosso fôlego; como o sol, que desde o horizonte clareia o meu
quarto sem que eu esteja olhando para ele, Deus me renova; como a raiz que
nutre a árvore, assim é Deus - a seiva da vida. A presença de Deus é a causa da
nossa existência; só vivemos porque vivemos Nele.
Orar é compartilhar com Deus, é um desabafo e não uma
técnica. Não devo confiar mais em minha oração do que em Deus. Não é porque
orei “corretamente” que Deus vai fazer alguma coisa. Deus não se põe em movimento
por causa da oração. Deus é pura gratuidade!
Como eu vou orar sabendo que Deus não se “move” por causa
da oração? Como serão minhas palavras em oração, sabendo que Deus não está
“fora” para que tenha que intervir, mas que está envolvido até ao pescoço com a
minha história? Como serão os termos de minha oração sabendo que eu vivo, que
eu me movo e existo em Deus?
Oração de invocação quer chamar mais a minha atenção do
que a atenção de Deus. Quando eu digo “vem,
e visita o seu povo”, na verdade quero convocar os meus sentidos à presença
de Deus: “vem, minha alma, abre os seus
olhos para Deus, ouça o que Ele diz, perceba a sua presença!”. Porque na
verdade não sou eu que estou esperando algo de Deus; mas é Deus que espera algo
de mim. A pergunta não é minha - “onde
está Deus?”, mas a pergunta é de Deus - “onde
está você? Onde está o seu irmão?” (Gênesis 3,9; 4.9).
Não sou eu que invoco a Deus; é Deus que me invoca para
eu dar conta de minha existência e cuidar do meu semelhante! Que vocação nobre
e cheia de significado!
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Milene