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UM OUTRO OLHAR PARA ADORAÇÃO

Toda confusão com relação à natureza e caráter do louvor e da adoração, na igreja evangélica brasileira, acontece por desvios teológicos. Intenções mercadológicas, sedução pelo poder, espírito messiânico, a cultura do “control c”, as letras desconectadas da vida e/ou egocêntricas, apelo forte às emoções têm origem em interpretações equivocadas das Escrituras (ou na má fé, descaradamente!).

Percebo que, principalmente nos ambientes pentecostais, há muita resistência à reflexão, à razão, como se o uso da inteligência e intuição fosse prática demoníaca. Devido a isso temos vários movimentos de louvor e adoração sem fundamento e consistência, levados muito mais pelos sentimentos e sensações, do que pela Verdade do Evangelho. Vemos uma geração mais interessada em sentir a presença de Deus do que em obedecer à sua voz.

O exercício do conhecimento na adoração é imprescindível. Lembremos do que Jesus disse à mulher samaritana: “Vocês, samaritanos, adoram o que não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus (Jo 4.22)”.
Portanto, devemos revisar nossos conceitos sobre louvor e adoração para que não sejamos levados por ventos de quaisquer modismos!

Gostaria de repartir alguns conceitos sobre o nosso tema que venho trabalhando há algum tempo para que possamos iniciar (ou dá continuidade!) a uma reflexão sobre a Teologia da Adoração. Que coloquemos nosso raciocínio, inteligência e intuição a serviço do Reino e, junto com os nossos sentimentos, nossa razão também glorifique a Deus!

1. ADORAÇÃO É SEMPRE UMA RESPOSTA A DEUS.

Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense? (Rm 11.35)
Nós amamos porque ele nos amou primeiro. (1Jo 4.19)
São estes os adoradores que o Pai procura. (Jo 4.23b)

O encontro com Deus só é possível porque ele nos procura. O fato de encontrarmos a Deus não diz respeito à nossa capacidade (competência na oração, técnica vocal, muita piedade), ao lugar (onde é o local da adoração? No Castelão, Maracanã, na cidade tal?), aos rituais ou símbolos (adoração de judeu ou samaritano? A canção de fulano ou cicrano? O uso de shofar, o ritmo e estilo das canções?). Encontrarmos a Deus é uma resposta à iniciativa d’Ele mesmo!

Adoração é sempre um segundo movimento, o primeiro movimento Deus já fez: Ele é o artista de toda criação, Deus sempre teve a iniciativa de se comunicar conosco (através dos patriarcas, profetas e na encarnação: o ato maior da comunhão); Jesus prometeu o Outro consolador para estar ao nosso lado.

Deus teve a iniciativa de nos criar, abençoar, resgatar e se relacionar conosco. Portanto, todo movimento (culto, oração, louvor, missões...) que fazemos é em si uma resposta ao movimento primeiro de Deus. Todo encontro, invocação, clamor do homem a Deus só é possível porque Deus já nos seduz desde a Eternidade; porque Ele nos chamou primeiro; porque Ele nos amou primeiro. Um “entre parêntese”: (o homem pode responder negativamente ao chamado de Deus, posto que tem livre arbítrio. A graça de Deus não é irresistível, pois, se fosse, o homem não teria liberdade de dizer não!).

Isto pode parecer um tema óbvio e superado entre nós, mas na prática a grande maioria age de forma diferente. Os movimentos de louvor e adoração mais se parecem com uma tentativa de receber os favores de Deus, um esforço para atrair a sua glória, uma maneira de ser mais querido por Deus ou um momento onde nos cabe provocar um avivamento! O louvor contemporâneo parece mais uma atividade que tem a motivação de provocar “algo tremendo” do que um momento onde nós desfrutamos de todas as coisas maravilhosas que Deus já nos concedeu.

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo (Ef 1.3).

Deus não está nos devendo nada! Ele já nos deu tudo o que precisamos. Adoração é o momento em que desfrutamos da presença de Deus sem o peso e a ansiedade de produzir alguma coisa.

Quais as implicações práticas que podemos tirar do conceito a adoração é sempre uma resposta a Deus?

1.1. Adoração não é um meio de barganhar com Deus.

Os povos primitivos, tribalistas e pagãos, costumavam fazer seus rituais com músicas e danças, comidas e bebidas, indumentárias, sessões de autoflagelo e símbolos para rogarem aos seus deuses uma boa colheita ou para aplacarem a sua ira.

Infelizmente, em muitos ciclos evangélicos vemos esses rituais camuflados de louvor e adoração: intenção legalista/pagã de que “se eu fizer bem feito, se eu adorar de todo o meu coração Deus vai me abençoar”, “o Senhor vai me fazer prosperar, vai me amar mais e de alguma maneira vai me favorecer” – cultura do “toma lá, dá cá!”. E eu pergunto: onde foi parar mesmo o conceito da graça?

Isto não tem nada a ver com adoração ao Deus bíblico. Adoração não é um mecanismo que acessamos corretamente e a partir disso Deus não tem como se negar a abençoar. Adoração não é um meio para se conseguir algo de Deus, mas um fim em si mesmo, onde meu ser se encontra com o Eterno.

Eu não adoro para acontecer alguma coisa, eu adoro porque já aconteceu: O Senhor criou todas as coisas e teve a iniciativa de se aproximar da humanidade. Deus nos deu todas as condições para uma vida abundante!

Não adoro para atrair a glória de Deus, adoro porque a sua glória já é manifesta: “os céus anunciam a glória de Deus...” (Sl 19.1).

Não adoro para aplacar a ira de Deus, adoro porque Ele se agrada de mim em Cristo Jesus!

Não adoro para ser amado por Deus, adoro porque desde a Eternidade Deus me ama. O Senhor lhe apareceu no passado, dizendo: “Eu a amei com amor eterno; com amor leal a atraí (Jr 31.3).

Eu não adoro para atrair a presença de Deus, eu adoro porque sua doce presença é fato: “... eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28.20).

A adoração não é para fazer descer o Espírito Santo, e sim uma dança/celebração com Ele, pois o Santo Espírito já foi enviado por Cristo Jesus. Quando eu canto "vem, oh Espírito Santo..." na verdade estou falando para minha própria alma "oh minha alma se achega à presença do Espírito, aguça os teus sentidos à presença de Deus, pois Ele já chegou desde a eternidade!"

1.2. Adoração não se torna um movimento messiânico.

O vocábulo messiânico se reporta a Jesus Cristo, o Messias de Deus, o Ungido de Jeová que veio redimir Israel. O termo passou a ser usado para se referir a uma espécie de “salvador da pátria”.

É interessante notar que muitos líderes no meio evangélico são tomados por esse espírito messiânico, pretensioso, que detém o poder, a revelação que faltava, “a música que vai fazer acontecer”, a pregação que vai mudar tudo, a ministração de louvor que vai produzir um avivamento na América Latina.

Nós não mudamos o mundo com adoração (adoração não é para isto!), nós transformamos o mundo com justiça, inclusão social, espalhando os valores do Reino dos Céus numa sociedade corrompida. Não redesenhamos o mundo com palavras, mas com ação! Adoração não é um abracadabra que transforma tudo num passe de mágica.

Não devemos levar para o momento do louvor e adoração esse peso nas costas de sermos um “divisor de águas”, de sermos os ministros que vão revolucionar o Brasil (ou a igreja local!), que vão ser canais para um avivamento em nossa nação – não deve estar aí a nossa motivação! Se tivermos esse sentimento ministraremos o louvor com muita ansiedade, preocupação, peso e não com alma leve de quem canta “Ele é bom; o seu amor dura para sempre” (2 Cr 5.13).

Vejo em muitos desses movimentos uma atitude vaidosa de quem deseja o título de “mais carismático”, “mais poderoso”, “mais ungido” e usa isso para vender mais CD e para fazer mais sucesso. ...E os “simples mortais” que vêem todo aquele movimento messiânico em show, DVD, congressos vão ministrar em suas igrejas com a alma afetada, o estilo caricaturado e com a mesma intenção de transformar uma realidade (e isso no período de cinco canções!). Isso além de vaidade é inocência! Aqui nós temos dois problemas: 1) a adoração não é para esse momento e 2) essa transformação não é possível na adoração.

Vejo também o risco que correm esses “messias” de se distraírem com o fazer as grandes obras religiosas em detrimento do conhecimento de Deus – isso é lamentavelmente possível! Vejam em Mt 7.21-23:

Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos [adoramos, cantamos] em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!

Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste (Jo 17.3).

Quando chegarmos ao momento de louvor e adoração no ajuntamento dos santos é necessário nos aquietar para vermos a beleza de Deus, precisamos sossegar nossa alma na presença do Senhor, largar mão de todo controle e vaidade e cantarmos “Não a nós, Senhor, nenhuma glória para nós, mas sim ao teu nome, por teu amor e por tua fidelidade!” (Sl 115.1). Quem adora em espírito e em verdade não faz do momento do louvor e adoração o momento para se promover.

Quem se compadece com o clamor das almas não usa o momento de louvor para um alívio de consciência (isso é só um paliativo!) e sai decretando mil e uma palavras, falando um monte de abobrinha que não vai se cumprir. Quem tem o coração ardendo por missões não fica apenas em palavras na hora do culto, prolonga a paixão pelas almas e canta com Isaías (6.8):

Então ouvi a voz do Senhor, conclamando: “Quem enviarei? Quem irá por nós?” E eu respondi: Eis-me aqui. Envia-me!

1.3. Adoração não é um tempo para cantarmos contra os inimigos; adoração já é em si o momento onde vencemos nossos inimigos.

A imagem de uma guerra não é atualmente uma boa metáfora para se usar nas canções devido, principalmente, ao nosso cenário mundial de conflitos, terrorismo, “guerras santas”.

Cantamos por muito tempo temas ligados à guerra espiritual; canções dirigidas e cantadas aos nossos inimigos. Exemplo: “caiam por terra agora os inimigos de Deus...”; “... e o diabo tremeu e o inferno tremeu, ó Satanás tu tremeste e até hoje tu tremes...”; “persegui os inimigos e os alcancei, os consumi e os atravessei...”.

Além de ser um tema ultrapassado que não corresponde mais ao nosso contexto é de mau gosto e sem sentido. Imaginemos a cena: o líder de louvor está ministrando e por algum motivo a igreja não “entrou’ no clima (às vezes, se formos honestos, o problema está na banda que não ensaiou o bastante, não houve preparo, a banda não está se comunicando bem com a igreja...). O líder interrompe o louvor (que poderia ser “glória, majestade, força, honra e poder...”) e diz que o ambiente está pesado, carregado e é necessário derrubar por terra o inimigo que atrapalha a adoração. Então o líder sugere a música "caiam por terra agora...." Isso já funcionou bastante (quem, depois dessa transferência, não adoraria ao Senhor com mais vigor?!). Hoje não funciona mais!

A grande motivação do diabo é desviar os nossos olhos de Deus! Se ele consegue fazer isso por um instante que seja haverá festa no inferno. Imagine a alegria dele ao conseguir que a igreja interrompa uma canção dirigida a Deus e se volte para ele cantando... "oh Satanás tu tremeste e até hoje tu tremes"? Mesmo que seja escarnecendo dele o que o diabo quis já conseguiu: distrair o nosso olhar da face de Deus!

Adoração já é em si a derrota do diabo, pois é quando ele é totalmente ignorado. E se tem uma coisa que ele odeia é ser ignorado, ainda mais quando quem o ignora, ignora porque está diante do Deus Criador! Voltar-se para Deus publicando suas obras, bendizendo o seu nome, derramando o coração é a verdadeira guerra espiritual!

Se dermos uma olhada com cuidado em Ef 6.10ss, perceberemos que a armadura de que Paulo fala tem mais a ver com caráter e relacionamento com Deus do que com capacitação para caçar demônios. Todas as ferramentas ali são defensivas, a única arma ofensiva na metáfora do apóstolo é a espada que é a palavra de Deus. E, mesmo assim, para se usar a palavra de Deus são necessários estudo, meditação e aplicação. Portando, a melhor maneira de lutar contra o diabo é “não lutar” contra o diabo, mas se apegar firmemente a Deus! O próprio Davi sabia disso:
Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda (Sl 2.5).

Quando homens maus avançarem contra mim para destruir-me, eles, meus inimigos e meus adversários, é que tropeçarão e cairão. Ainda que um exército se acampe contra mim, meu coração não temerá; ainda que se declare guerra contra mim, mesmo assim estarei confiante. Uma coisa pedi ao Senhor, é o que procuro: que eu possa viver na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a bondade do Senhor e buscar sua orientação no seu templo (Sl 27.2-4).

1.4. Adoração deixa de ser tão egocêntrica (centrada em mim) e se torna teocêntrica.

Vocês já perceberam a quantidade de canções cantadas na primeira pessoa (singular ou plural) onde o foco é o ser humano que precisa ser abençoado, que está passando por tribulações, que precisa sentir alguma coisa? Já contaram as canções que apontam para Deus, falam de seus atributos, que têm o foco no Deus transcendente? O professor Arthur da Faculdade Fidelis em Curitiba afirma que

com o imediatismo que entra na igreja como uma característica do mundo atual, nós estamos muito mais preocupados com aquilo que resolve os nossos problemas do que com a verdade. Assim a vida das pessoas se baseia muito mais em experiências particulares do que na Palavra de Deus que é verdade objetiva. A crítica é que a música contemporânea está mais focalizada no adorador (sentimentos) que no alvo de nossa adoração (Deus). Quando nós somos o centro, as soluções que resolvem os nossos problemas são enfatizadas e não aquilo que promove o reino de Deus.

Isso é um reflexo preocupante, pois parece que Deus existe por causa do homem; Deus virou um atendente de balcão que é chamado por gente vaidosa e egoísta que usa o momento de louvor e adoração para simplesmente se sentir melhor. Acontece que algumas vezes a experiência no louvor e adoração pode não ser agradável. O Espírito Santo pode me lembrar de coisas que preciso sacrificar, abandonar, perdoar, coisas que precisam ser feitas que contem com meu desprendimento, iniciativa, humildade, e esta experiência pode ser amarga (Ap 10.10):

Peguei o livrinho da mão do anjo e o comi. Ele me pareceu doce como mel em minha boca; mas, ao comê-lo, senti que o meu estômago ficou amargo.

É claro que devemos chegar diante do Senhor de maneira integral, com todos os nossos sentimentos, anseios, medos e confiantes que Ele nos acolhe e abençoa, mas devemos ter o cuidado para não trocar os papéis e fazer de Deus um servo ao nosso serviço!

Nosso foco e confiança precisam estar no caráter de Deus que não falha e não nos nossos sentimentos e coração (que é enganoso!). Precisamos reafirmar com o profeta Habacuque mais uma vez (Hc 3.17,18):

Mesmo não florescendo a figueira, e não havendo uvas nas videiras, mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral, nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no SENHOR e me alegrarei no Deus da minha salvação.

2. ADORAÇÃO NÃO ME DISTANCIA DA REALIDADE DA VIDA.

Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago, e os levou, em particular, a um alto monte. Ali ele foi transfigurado diante deles. Sua face brilhou como o sol, e suas roupas se tornaram brancas como a luz. Naquele mesmo momento apareceram diante deles Moisés e Elias, conversando com Jesus. Então Pedro disse a Jesus: “Senhor, é bom estarmos aqui. Se quiseres, farei três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias”. (Mt 17.1-4)

Quem vive só na “tenda”, no ambiente de adoração, em êxtase no louvor, se aliena da vida, fica arrebatado e se desconecta da realidade do mundo. Adoração não é um movimento que me vicia negativamente na presença de Deus – isto não é devoção, e sim infantilização!

Existe uma dependência que Deus não deseja que tenhamos – uma dependência de meninos mimados que estão sempre ao pé do pai e não se sociabilizam, não partem para os desafios da vida, não desenvolvem relacionamentos, não têm discernimento para fazer escolhas. Esta dependência não é idéia de Deus! Ele deseja que sejamos filhos e filhas maduros que não fazem de sua presença uma muleta, um pretexto para fugir da demanda da vida, um “tapar os olhos” para os acontecimentos da nossa geração.

O movimento do adorador não acaba no altar, mas prolonga-se para os velórios, padaria, posto de gasolina, trânsito, ônibus lotado, hospitais, rotina da semana, sabendo que Deus sempre está presente, mas que sua presença não é um escape covarde, e sim um estímulo para encarar os desafios da vida.

No Salmo 123 vemos um adorador que tem olhos para Deus, mas também tem olhos para a sua realidade. O salmista sobe para adorar (cânticos dos degraus/subida/romaria/peregrinação – Salmos 120 a 134), mas sabe que vai descer e continuar a vida.

O grande desejo de Deus é ver sua glória compartilhada, seus valores vividos em família, sua graça encharcando a terra. E quem se encontra com Deus no monte, precisa descer para ser o rosto de Deus ao próximo. Vejam o exemplo de Moisés, Gideão e Isaías.

Tenho pensado que nada dá mais alegria a Deus do que ver seus adoradores refletindo em seus semelhantes a beleza que viram no altar. Deus não é um ser vaidoso ou narcisista, um pavão eterno que busca elogios, palavras de aceitação, de confirmação da sua obra – Deus não tem problema com auto-afirmação e nem crise de identidade; ele disse “Eu sou”. Deus não precisa que a gente lembre a Ele que Ele é santo, justo, soberano; somos nós que precisamos lembrar da justiça, do amor, da santidade de Deus. Vejam a visão de Isaías (6.3): [1]

E proclamavam uns aos outros: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória”.

Qual o cônjuge, o(a) namorado(a) que se sentirá confortável com um(a) parceiro(a) que não pára de dizer “eu te amo, eu te amo...” É necessário que estas palavras se transformem em ação nos dias ordinários, na rotina dos mortais!

O meu movimento para Deus, necessariamente deve ser refletido no próximo, senão é ladainha. Minhas palavras são autenticadas por minha aproximação ao outro.

Se alguém afirmar: “Eu amo a Deus”, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.

Existe uma palavra no Novo Testamento para adoração que muitos dos adoradores esqueceram ou não tiveram conhecimento – threskeia, que em nossas versões foi traduzida para religião. Quem usa esta palavra é Tiago (1.27) que nos oferece um conceito menos metafísico sobre adoração:

A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo.

Não basta dizer palavras piedosas, devotas a Deus se tudo o que eu disser não tiver reflexos no meu relacionamento com outro. Muitos estão se iludindo que têm intimidade com Deus porque adoram bastante, fazem muitos congressos de louvor, fóruns sobre adoração, e naquele dia terão uma desagradável surpresa:

Então Ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos. Pois eu tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e nada me deram para beber; fui estrangeiro, e vocês não me acolheram; necessitei de roupas, e vocês não me vestiram; estive enfermo e preso, e vocês não me visitaram’.“Eles também responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome ou com sede ou estrangeiro ou necessitado de roupas ou enfermo ou preso, e não te ajudamos?’“Ele responderá: ‘Digo-lhes a verdade: O que vocês deixaram de fazer a alguns destes mais pequeninos, também a mim deixaram de fazê-lo’.“E estes irão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna” (Mt 25.41-45).

Encerro minha fala com as palavras de Russel Shedd, em seu livro Adoração Bíblica:

Quem tem um olho desvendado para contemplar a grandeza de Deus terá outro cheio de lágrimas pelos miseráveis e desesperados. Se não nos aproximamos do nosso próximo, não nos aproximamos realmente de Deus.

[1] Este insight devo ao Pr. Eliel da Betesda de São Paulo.

Comentários

IaGo AraúJo disse…
PASTOR marcio..num sei qnd eh q vou aprender a chamar assim..ain ain ain!!!
kra..tuh eh benção..e a andrea tbm..fico feliz por ter vc me ajudando e me apoiando..sempre gosto de orar pedindo a Deus pra ele retribuir aquilo que eu num sei como retriubir..Deus abençoe tudo em vcs!!
um abraço...
*qnt ao texto, tah muito grande,fiquei ,por enqnt com preguiça de ler..

passa lah no meu..
Anônimo disse…
Pr. Marcio, passado tanto tempo acredito que o Pr. Iago (esse sim vou demorar a me acostumar) tenha aprendido a chamar assim. Pois o título nada mais é que um reconhecimento de nosso exercício.
Quanto ao texto estarei usando para reflexão num encontro de músicos de Sobral (não sei pq estou indo - kkkkk), realmente ficou grande para nossa rotina de internet, mas grande também é sua capacidade de nos fazer refletir. abraços, Alex Marques

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