Para dar conta do “terror cósmico”, os nossos
ancestrais criaram mitos. Para lidar com os medos e insegurança o humano
precisou se cercar de uma ordem, uma rotina, uma narrativa. Para se organizar,
o ser humano constrói um mundo de sentidos. Diante do absurdamente inexplicável
ousamos nomear.
Nesse mundo de sentidos encontramos tudo o
que diz respeito à cultura: a linguagem, comida, modo de se vestir,
o pensamento, a teologia, as “tribos”, os guetos, a urbanização, ritos de
passagem, artes e outros. Tudo para promover certo sentido, orientação,
segurança, ordem e paz. Nada mais humano!
Mas quem se atreve a ser um discípulo de
Jesus tem esse mundo de sentidos bagunçado vez por outra!
Parece-me que a caminhada de Jesus é sempre
na contra mão de uma vida organizada definitivamente, de uma fé pronta, de uma
zona de conforto, do egocentrismo, da indiferença, da alienação, do sossego
entorpecente.
Quem segue a Jesus não pode viver em paz! “Eu não vim trazer a paz...”
A sua teologia desestabiliza e nos deixa
sempre a perguntar: “quem é esse?”. A sua teologia é subversiva porque à favor
da vida; e porque é a favor da vida se relativiza por amor. “Vocês ouviram o que foi dito, eu, porém vos
digo”. E quando ouso pensar, fazer jus ao espírito livre de Jesus... ah,
sou taxado de herege, não posso viver em paz.
O seu engajamento é uma ameaça ao status quo; uma ameaça ao meu conforto,
uma pergunta que me comissiona! E se eu digo sim, sou perseguido: nada de paz,
mas “guerra”.
O seu amor/ compaixão é que faz a sua agenda.
Jesus é refém do seu amor. Porque ama não tem onde reclinar a cabeça! Quantas vezes
ele desejou descansar com seu amigos ou sozinho, mas quando a vida do outro se
lhe impôs ele adiou a folga.
Quem abraçou o forte apelo de Jesus pela
justiça não consegue não se revoltar frente às injustiças, corrupções e
desigualdades. Sossego?
Quem foi alvo do amor incondicional de Jesus
não fica em paz quando assiste cenas de intolerância religiosa. E quem se
arrisca a lutar pelo direito das minorias é "apedrejado".
Quem foi driblado ao tentar colocar Jesus numa categoria não pode descansar as suas ideias, as suas crenças; não pode
organizar a sua fé definitivamente.
Quem viu Jesus abrindo as portas para estrangeiros,
gentes de outra fé, de outras tribos não pode se fechar num quintal religioso,
numa fronteira xenofóbica; não pode fechar as portas da sua. "A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos!"
Qualquer movimento que, em nome de um mundo
de sentidos, quer uniformizar o grupo, organizar definitivamente a fé, promover
uma paz alienada, dar a sensação de segurança dentro de um gueto é contra a
vida cristã.
Obviamente, o homem precisa desse universo de
sentidos para não enlouquecer, mas esse universo não pode paralisar o fluxo do
pensamento, dos relacionamentos, da fé e do vento do Espírito.
Quem segue a Jesus não descansa a cabeça!
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