O que eu parecia e mostrava ser – pensei – nunca o havia sido, nem um único minuto da minha vida. Não o havia sido na escola, nem na universidade, nem no consultório. Será que com os outros acontecia o mesmo? Será que ninguém se reconhece no seu exterior? Será que a imagem refletida lhes parece um cenário de deformações grosseiras? Será que se apercebem com horror de um abismo que se abre entre a percepção que os outros têm deles e a forma como eles se veem? Que a intimidade interior e a intimidade exterior podem se afastar de tal maneira que acaba por tornar-se quase impossível considerá-las com intimidade com o mesmo ser?
A distância em relação aos outros para a qual nos transporta essa consciência torna-se ainda maior quando compreendemos que a nossa imagem exterior não surge aos outros como aos nossos próprio olhos. Não vemos as pessoas como vemos casas, árvores ou estrelas. Vemo-las na expectativa de as encontrarmos de uma determinada maneira, transformando-as, assim, em um pedaço da própria interioridade. A força da imaginação forma-as de maneira que estejam de acordo com os próprios desejos e as próprias esperanças, mas também de modo a que nelas se confirmem os nossos próprios temores e preconceitos. Na verdade, nem sequer alcançamos os contornos exteriores do outro de maneira segura e imparcial. Ao longo do percurso, o olhar é desviado e turvado por todos os desejos e fantasias que fazem de nós a pessoas especial e insubstituível que somos. Mesmo o exterior de um interior ainda continua sendo um pedaço de nosso mundo interior, sem falar dos pensamentos que produzimos sobre o mundo interior estranho e que são tão inseguros e imprecisos que acabam por revelar mais sobre nós próprios do que sobre o outro. Como é que o homem com o cigarro vê o homem empertigado com o rosto magro, o lábios cheios e um par de óculos de aros dourados num nariz adunco e reto que até a mim parece muito comprido e dominador? E como essa figura se insere na estrutura secreta de suas simpatias e antipatias e na arquitetura restante de sua alma? O que o seu olhar exagera e amplia em minha aparência, e o que ele deixa de fora, como se não existisse? Inevitavelmente será sempre uma imagem distorcida a que o fumante estranho faz da minha imagem refletida, e a sua imagem imaginada do meu mundo de idéias acumulará distorção sobre distorção. E assim acabamos por nos ser duplamente estranhos, pois entre nós não há apenas o mundo externo enganador, como também a miragem que dele surge em cada interioridade.
A distância em relação aos outros para a qual nos transporta essa consciência torna-se ainda maior quando compreendemos que a nossa imagem exterior não surge aos outros como aos nossos próprio olhos. Não vemos as pessoas como vemos casas, árvores ou estrelas. Vemo-las na expectativa de as encontrarmos de uma determinada maneira, transformando-as, assim, em um pedaço da própria interioridade. A força da imaginação forma-as de maneira que estejam de acordo com os próprios desejos e as próprias esperanças, mas também de modo a que nelas se confirmem os nossos próprios temores e preconceitos. Na verdade, nem sequer alcançamos os contornos exteriores do outro de maneira segura e imparcial. Ao longo do percurso, o olhar é desviado e turvado por todos os desejos e fantasias que fazem de nós a pessoas especial e insubstituível que somos. Mesmo o exterior de um interior ainda continua sendo um pedaço de nosso mundo interior, sem falar dos pensamentos que produzimos sobre o mundo interior estranho e que são tão inseguros e imprecisos que acabam por revelar mais sobre nós próprios do que sobre o outro. Como é que o homem com o cigarro vê o homem empertigado com o rosto magro, o lábios cheios e um par de óculos de aros dourados num nariz adunco e reto que até a mim parece muito comprido e dominador? E como essa figura se insere na estrutura secreta de suas simpatias e antipatias e na arquitetura restante de sua alma? O que o seu olhar exagera e amplia em minha aparência, e o que ele deixa de fora, como se não existisse? Inevitavelmente será sempre uma imagem distorcida a que o fumante estranho faz da minha imagem refletida, e a sua imagem imaginada do meu mundo de idéias acumulará distorção sobre distorção. E assim acabamos por nos ser duplamente estranhos, pois entre nós não há apenas o mundo externo enganador, como também a miragem que dele surge em cada interioridade.
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