“Quando fomos embora [do asilo], depois de ter beijado vovó e prometido voltar logo, minha irmão disse: ‘É, vovó parece bem instalada. Quanto ao resto... vamos nos apressar para esquecer isso bem depressa’. Não vamos fazer picuinha com o ‘apressar bem depressa’, o que seria mesquinho, e concentremo-nos na idéia: esquecer aquilo bem depressa. Ao contrário, não se deve de jeito nenhum esquecer aquilo. Não se devem esquecer os velhos de corpos estragados, os velhos que estão pertinho de uma morte em que os jovens não querem pensar (por isso confiam ao asilo o cuidado de levar seus parentes, sem escândalo nem aborrecimentos), a inexistente alegria dessas derradeiras horas que deveriam ser aproveitadas a fundo e que são padecidas no tédio, na amargura e na repetição. Não se deve esquecer que o corpo definha, que os amigos morrem, que todos nos esquecem, que o fim é solidão. Esquecer muito menos que esses velhos foram jovens, que o tempo de uma vida é irrisório, que um dia temos vinte anos e