Eu sou meu contemporâneo e meu ancestral Ando para frente e me puxo para trás Eu sou o profeta e o sacerdote O transgressor e a tradição Eu me promovo e me boicoto Sou um abismo de gerações O que dá asas à imaginação E o que se desestabiliza com as vozes dos pais Eu sou um exilado de mim mesmo E ao mesmo tempo inquilino Eu me vejo por fora como quem vê fotos Observo os passos, os gestos, as feições Eu me vejo por dentro e vejo de dentro Eu ouço as minhas palavras em pensamento Escuto os meus suspiros e ais Mas não me discirno Sou um desconhecido de mim e tão familiar! Não me reconheço na imagem No entanto, sou um ser previsível Eu me surpreendo comigo, e me decepciono Nunca me vi tão covarde e tão corajoso Quem me habita há de concordar comigo: Somos um todo humano. Nada mais que isso. Nada mais sem isso. Márcio Cardoso