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Mostrando postagens de dezembro, 2010

UM ANO COM MAIS VALSAS E MENOS PRESSA

“Enquanto o tempo acelera e pede pressa Eu me recuso, faça hora, vou na valsa A vida é tão rara!” ( Paciência, de Lenine/ Dudu Falcão) Deixei para comprar o presente de natal da minha esposa somente na semana da festa. Ingenuamente fui procurar num shopping! Como todos sabem, nessa época do ano o comércio está fervendo de gente: jovens de férias, crianças para verem os enfeites natalinos, turistas e gente que deixou suas compras para última hora! Encontrei o que eu queria até com certa rapidez, e junto à compra uma constatação que me fez rir: depois do presente em mãos eu estava andando a uns 15 km/h seguindo o frenesi de todos os transeuntes! Então eu me perguntei: “por que estou andando tão rápido? Já comprei o presente, eu tenho mais de 2 horas para o próximo compromisso e o local do compromisso fica apenas a 7 km daqui!” Na mesma hora eu reduzi a marcha até quase arrastar o sapato no chão (só de vingança!), neguei-me a ser carregado por aquele fluxo de gente e pense

A Pequena Alegria

Os movimentos do nosso coração, nossa força empreendida, os sonhos desejados, a nossa visão de mundo, a maneira como organizamos a nossa vida, nossa religião e liturgia, por vezes é influenciado pela sociedade; sociedade esta de consumo, do descartável, do imediatismo, do midiático, do utilitarismo, da concorrência, do ufanismo, do triunfalismo, do mito, do endeusamento do corpo e dos campeões, entre outras coisas... Num mundo como este os nossos olhos vão ficando cada vez mais cegos para as coisas mais modestas, para o Reino que acontece também no anonimato ("o Reino é como uma semente plantada..."), para os fracos, para os perdedores, para as amizades que requerem tempo, para aqueles que não tem o padrão de beleza imposto, para aqueles que tem alguma dificuldade motora, para as crianças, para os pobres e para os prazeres pequenos do dia a dia. Daí, no natal, se repete o que aconteceu no nascimento de Jesus: poucos perceberam o Deus de fraldas! Poucos perceberam o

Um pouco de Bernardo Soares (heterônimo de Pessoa) no "Livros do Desassossego"

No alto ermo dos montes naturais temos, quando chegamos, a sensação do privilégio. Somos mais altos, de toda a nossa estatura, do que o alto dos montes. O máximo da Natureza, pelo menos naquele lugar, fica-nos sob as solas dos pés. Somos, por posição, reis do mundo visível. Em torno de nós tudo é mais baixo: a vida é encosta que desce, planície que jaz, ante o erguimento e o píncaro que somos. Tudo em nós é acidente e malícia, e esta altura que temos, não a temos; não somos mais altos no alto do que a nossa altura. Aquilo mesmo que calcamos, nos alça; e, se somos altos, é por aquilo mesmo de que somos mais altos. Respira-se melhor quando se é rico; é-se mais livre quando se é célebre; o próprio ter de um título de nobreza é um pequeno monte. Tudo é artifício, mas o artifício nem sequer é nosso. Subimos a ele, ou levaram-no até ele, ou nascemos na casa do monte. Grande, porém, é o que considera que do vale ao céu, ou do monte ao céu, a distância que o diferencia não faz diferença.