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Mostrando postagens de outubro, 2007

Entre a palavra e o espírito

Ah que vontade que dá De expor em rima, cor e som O que diz a alma em silêncio E reverbera ensurdecedor Mas ignorado e engasgado Ah que vontade que dá De perceber a rima, a cor e o som De um dizer outro Para um jeito novo de ouvir Que acolhe terno e grato Ah que vontade que dá De abstrair a rima, a cor e o som Voar com a imaginação Suspender-me em fé E pousar em Deus

A vida eterna começa aqui e agora.

Certa vez um jovem rico, religioso, moralmente correto, dono de muitas propriedades perguntou a Jesus: “que farei de bom para alcançar a vida eterna?”. A resposta de Jesus me fez pensar que a pergunta do jovem teria sido uma pergunta sem sentido; uma pergunta fora de lugar. “Por que me perguntas acerca do que é bom. Bom só existe um. Mas se queres entrar na Vida...” Ou seja: uma boa ação que garanta favores celestiais é impensável; um ser humano muito bom para se bastar inexiste. A pergunta que o jovem faz é absurda, mas a resposta de Cristo pode lhe socorrer de uma vida religiosa, gnóstica, avarenta e escapista. “’Mas se queres entrar na Vida... ’ se é a respeito, jovem, do engajamento na Vida, de uma participação responsável no Viver, nós podemos conversar.” A questão não é alcançar a vida eterna, a questão é entrar na Vida. (“Aliás, que tal entrar na Vida não possuindo? Que tal me seguir mais leve? Venda suas propriedades e dê aos pobres!”). “Alcançar a vida eterna” como se a vida

A letra mata... 2 ou sobre a importância da imaginação na leitura bíblica (texto de Eugene Peterson)

O evangelho de João fala sobre Jesus Cristo: a “Palavra tornou-se carne”. A narrativa insiste e demonstra que a “palavra” não é uma abstração filosófica, nem tinta sobre pergaminho, mas, sim, uma ocorrência histórica. A Epístola de João também enfatiza a palavra física, sensorial e histórica: “... o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam – isto proclamamos a respeito da Palavra da vida” (1 Jo 1.1). A palavra de Deus foi pronunciada antes de ser escrita. Pessoas viram, tocaram e ouviram Jesus antes de escrever sobre Ele. O que caracteriza a “palavra de Deus”, acima de qualquer outra coisa, é ser falada, ter uma criatividade viva e dinâmica. A palavra de Deus escrita (scriptura) é maravilhosa, mas é também uma bênção que traz vantagens e desvantagens. Vantagens porque cada nova geração de cristãos tem acesso ao fato de que Deus fala, conhece a maneira como Ele se expressa e os resultados decorrentes dessa manifestação. A desvantagem es

A letra mata... (um texto de Rubem Alves)

Um texto são palavras mobilizadas no papel pela química da tinta. Quando elas apareceram pela primeira vez, seu estado não era esse: mais se pareciam com pássaros selvagens, batendo as asas... O professor [teólogo-cientista] armou suas arapucas, pegou os pássaros, selecionou os que lhe interessavam e engaiolou-os com papel e tinta. Pobres palavras... Perderam a liberdade. Agora estão congeladas no tempo e no espaço. Mas depois, quando o professor [teólogo-cientista] se puser a lê-las, será a sua vez de perder a liberdade. Agora, sob o comando das palavras escritas, ele será obrigado a dizer aquilo a que elas o obrigam. A química prende as palavras no papel. Mas, no momento da leitura, a física da luz faz que elas voem do papel para os olhos, dos olhos, para a morada dos pensamentos, e daí para a boca. E o “lente” as transforma em sons. Ele as diz. Se, por acaso, pássaros diferentes passam batendo as asas, ele faz de conta que não os vê. Se ele se sente tentado a voar com eles, o texto